Felipe Franco Munhoz

Felipe Franco Munhoz nasceu em São Paulo, em 1990. É graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Antes de publicar seu primeiro livro, MENTIRAS (Nós, 2016), que dialoga com a obra de Philip Roth, já havia recebido uma Bolsa Funarte de Criação Literária, em 2010, e participado das homenagens promovidas pela The Philip Roth Society, em Newark, em 2013, durante a comemoração de 80 anos do autor estadunidense. Em 2017, na Festa Literária das Periferias (Flup), com a atriz Natália Lage, apresentou “Identidades 15 minutos”: recorte-adaptação do que seria seu livro seguinte, IDENTIDADES (Nós, 2018).
O texto “Parêntesis”, publicado em 2020 no jornal O Estado de S. Paulo, foi registrado em performance audiovisual homônima – dirigido por Natália Lage, com trilha sonora original de André Mehmari, o curta-metragem foi exibido no Nepal International Film Festival, no CICA Museum (Coreia do Sul), dentre outros festivais e espaços – e integra seu terceiro livro, LANTERNAS AO NIRVANA (Record, 2022). Traduziu, do russo, a seleta de poemas de Aleksándr Púchkin “O Cavaleiro de Bronze e outros poemas” (Kalinka, 2022).
DISSOLUÇÕES
Abordando temas como a perspectiva de futuro, o amor e o sentido de ambos na atualidade, DISSOLUÇÕES combina, de maneira absolutamente própria, narrativa ficcional, poesia e texto dramático. Esse novo livro já nasce recomendado por um dos mais importantes escritores portugueses da atualidade, José Luís Peixoto, autor da apresentação, e pela professora Aurora Fornoni Bernardini (USP), autoridade em estudos literários.

O que distingue o trabalho de Felipe Franco Munhoz é, acima de tudo, a fusão de narrativa, poesia e texto teatral, bem como aquela entre forma e conteúdo. Há sempre uma história sendo contada – com personagens cuja trajetória acompanhamos, mas que nos chegam não por meio de um enredo linear, e sim em uma sequência de passagens poéticas que se constroem a partir dos mais variados elementos: rubricas dramáticas, diálogos, versos rimados e metrificados, versos livres, propostas visuais etc. Além de referências literárias, seus livros trazem também intertexualidades musicais, cinematográficas e filosóficas que ampliam o alcance dos versos e enriquecem ainda mais a hibridez do conjunto.
Dissoluções fala de um tempo, o nosso, em que a própria ideia de futuro está em questão. Os personagens se debatem na ânsia de saber como a vida poderá continuar: “Meu verso lança oposto ao vasto beco, eco; / regresso falso“. Eles se perguntam se o amor, no fim de tudo, poderá sobreviver.

Com sua poesia radicalmente inovadora, Franco Munhoz propõe uma dissolução do humano nas palavras e das estruturas poéticas em um ambiente previamente inexplorado na literatura brasileira.

Status/Publicação: Pela Record em julho de 2024. [160 páginas]
“O mundo é enorme porque o amor é enorme. O futuro é infinito porque aceitamos o exercício de imaginá-lo a partir do seu fim. Felipe Franco Munhoz diz-nos que existimos – e dissolvemo-nos – na palavra e, ao fazê-lo, levanta uma bandeira humana de esperança.” – José Luís Peixoto, para o texto de apresentação de DISSOLUÇÕES.
MENTIRAS
MENTIRAS, inspirado na obra de Philip Roth, é configurado inteiramente em diálogos, com as vozes de três personagens: Felipe, Philip e Thaís. Felipe, um escritor iniciante, está escrevendo seu primeiro romance – é o romance que o leitor estaria acompanhando em tempo real. Logo na primeira sentença, Felipe arrasta para seu trabalho (recém-começado, mas já em progresso) um escritor experiente, pessimista, que terá o papel de conduzi-lo pelos mecanismos da criação: Philip. Num café, durante as manhãs, Felipe e sua espécie de falso duplo (ou falso contraponto) debatem o estilo, formas, conteúdos, o progresso do livro e os eventos que se desenrolam entre Felipe e Thaís, no apartamento de Thaís, durante as noites.
Enquanto Felipe e Philip sabem de todo o contexto ficcional (e manipulam, inclusive, tal contexto ficcional), Thaís, namorada de Felipe, acredita ser uma pessoa de verdade. Dentro desse conceito, desse jogo de espelhos impossíveis, cada livro de Philip Roth aparece implicitamente citado; e MENTIRAS torna-se palco, afinal, para a discussão de não apenas a própria literatura e a arte, mas também o amor, religiões, diferenças culturais, dentre outras temáticas.

Status/Publicação: Pela Nós em 2016. [208 páginas]
IDENTIDADES
Espécie de Fausto do século XXI, paulistano, IDENTIDADES acompanha as transformações físicas e emocionais de seus protagonistas. O jovem Fausto, homem nascido em corpo de mulher, perambula, quase delirante, em busca de Mefistófeles: em busca de algum pacto que lhe proporcione, magicamente, a desejada transição. Confundido com o demônio (e, com malícia, assumindo esse enganoso papel), Suposto Mefistófeles ingressa, portanto, no transe do jovem. Suposto Mefistófeles sofre de uma doença genética que faz com que volumosos tumores cresçam, visíveis, em uma de suas pernas; é uma doença que poderia ser transmitida, e até mesmo em variações hiperbólicas, a seus descendentes – e Camila, com quem se relaciona, está grávida.
Ciente da possível transmissão hereditária, Camila questiona-se a respeito de interromper ou não a gravidez. IDENTIDADES, que se estrutura em território dramatúrgico, abrigando propostas poéticas diversas (mais livres ou mais fixas), procura, página a página, caso a caso, mesclar forma e conteúdo: explorando múltiplas trajetórias estéticas e de trabalhos com a linguagem.

Status/Publicação: Pela Nós em 2018. [208 páginas]
LANTERNAS AO NIRVANA
Entrelaçando poesia e dramaturgia, transformando páginas em palcos (ou palcos em páginas?), LANTERNAS AO NIRVANA investiga luzes e sombras – incididas tanto nas minúcias do ser humano quanto na expansão da linguagem – para arquitetar textos que funcionam como performances ou esculturas. Assim, dentre ruídos e silêncios, dentre representações dos desafios da comunicação interpessoal no mundo contemporâneo, dentre signos, enquanto formas poéticas são projetadas (e, sem qualquer pudor, corrompidas), personagens aparecem, evanescem, voltam; descortinam-se pequenos enredos e bastidores são escancarados.
LANTERNAS AO NIRVANA foi elaborado no isolamento social radical de seu autor (isolamento de 312 dias completos, durante a fase mais difícil da pandemia do SARS-CoV-2); cada trecho do livro apresenta a data em que começou a ser escrito, lançando ao leitor a pergunta: houve alterações no estilo e nas ideias influenciadas pelo tempo e pelo próprio confinamento? LANTERNAS AO NIRVANA é um livro fragmentado: cada fragmento revela-se tanto peça do quebra-cabeça quanto corpo independente; talvez seja o mesmo abismo já visitado pelo autor, mas talvez a queda, agora, seja um pouco mais breve e, paradoxalmente, um pouco mais profunda.

Status/Publicação: Pela Record em 2022. [112 páginas]