OS NOVOS NÔMADES

Miguel Sader

Você mal terminou de pular as sete ondinhas, e fevereiro chegou. Um fevereiro bem diferente do que estamos acostumados, é verdade. A folia e a euforia coletivas do Carnaval dão lugar ao recolhimento enquanto ainda não é seguro viver livremente nas ruas. Mas alguns eventos característicos desta época do ano resistem, como a época de premiações do cinema, que costumeiramente atrai olhares atentos também do meio literário – editores e agentes curiosos com o desempenho das adaptações que saíram dos livros para as telas.

Na semana passada, foram anunciados os nomeados do Globo de Ouro, que antecede o Oscar. E dentre os favoritos, nós já temos o nosso queridinho: NOMADLAND, drama dirigido por Chloé Zhao, estrelado por Frances MacDorman (duas vezes vencedora do Oscar, por Fargo, em 1997, e Três Anúncios para um Crime, em 2018) e premiado com o Leão de Ouro em Veneza no ano passado. Validando nossa torcida, recentemente, um dos principais críticos de cinema da Grã-Bretanha, Peter Bradshaw, publicou um artigo no Guardian que aponta NOMADLAND como um dos principais candidatos a roubar a cena nos próximos meses.

O filme, que acumula quatro indicações em diferentes categorias, é baseado no livro homônimo de Jessica Bruder, um dos mais fascinantes lançamentos de não-ficção dos últimos tempos. A reportagem conta a história de Linda May, uma avó sexagenária que mora em seu Jeep e trabalha onde há oferta de emprego, mudando de um canto a outro do país. A tragédia social norte-americana que só de uns tempos para cá passou a ser visível, ficando muito evidente, é claro, nesta pandemia. Uma massa de gente sem plano de saúde, numa terra que não oferece qualquer medicina pública, e sem dinheiro para o aluguel das grandes cidades. Bruder mostrou essa realidade em 2017, quando lançou NOMADLAND pela Norton.

Para frustração do público brasileiro, nem a obra original e nem o filme estão disponíveis por aqui. A adaptação ao menos tem data prevista para desembarcar, 18 de março, enquanto o livro ainda busca uma casa interessada em adquirir os direitos de tradução. A Amazon é personagem do livro e do filme sob uma luz não muito simpática, mas nem por isso é difícil de encontrar a edição da Norton de NOMADLAND na loja digital; ao contrário está com um bom destaque.