Raymond Moss, advogado corporativo e cofundador da agência (o M da VB&M), já estava lendo PHILIP ROTH: THE BIOGRAPHY quando foi surpreendido pela grande polêmica em torno de supostos estupros que teriam sido cometidos tempos atrás, um dos crimes datado da década de 90, pelo biógrafo Blake Bailey. A Norton, editora americana do livro recém-publicado nos EUA e inédito no Brasil, suspendeu não só uma grande turnê de promoção do lançamento mas a própria comercialização da obra. Raymond oferece sua leitura da biografia, da obra de Philip Roth e da polêmica envolvendo biógrafo e biografado.
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Depois de anos me distanciando de Philip Roth, decidi, durante a pandemia, revisitar a obra, a vida e o tempo desse celebrado autor. Encomendei assim que saiu PHILIP ROTH: THE BIOGRAPHY (Norton, 2021), sua biografia autorizada e assinada por Blake Bailey, ele mesmo um celebrado autor e crítico. Como fazia o próprio Roth, os críticos do livro foram do realismo à farsa (esta, desta vez, não-intencional). Inicialmente, a biografia conquistou grande reconhecimento, mas agora foi acrescentada à lista de obras banidas, como aquelas de Dr Seuss, nessa contínua cultura do cancelamento que estamos atravessando. Bailey e por associação Roth estão sendo julgados pela imprensa popular por acusações que nunca antes tinham vindo à luz, com muito da hipérbole e da histeria que caracterizaram na América Colonial os processos das Feiticeiras de Salem e, nos anos 50, o macartismo. Correção política não deveria obstruir a boa arte, literatura ou música. Temos que olhar para as reais obras de arte e para o contexto histórico e social em que foram produzidas, separar fatos e insinuações da ficção; separar o autor de sua criação, e a criação do seu autor.