Um livro inusitado que na Alemanha está galgando aceleradamente a lista de mais vendidos do Spiegel, a mais referencial do país, é EU PREFERIRIA FICAR FORA DESSA: UMA REVOLTA CONTRA A TIRANIA DO PENSAMENTO POSITIVO (tradução muito livre de ICH MÖCHTE LIEBER NICHT), de Juliane Schreiber. Ao contrário de toda autoajuda que promove a busca da felicidade, o livro de Schreiber, que já está no quarto lugar da lista de não-ficção, convoca à resistência contra a ideologia dos dias de hoje: a tirania da felicidade.
A autora se cansou dos coaches, das revistas, de todos os produtos que dizem para as pessoas que elas têm que ser positivas. É dever de todo mundo considerar que o fracasso é oportunidade, evitar emoções negativas e se dedicar ao desenvolvimento pessoal. O livro especula o que pode acontecer a uma sociedade obrigada a sobreviver ao mercado da felicidade e reflete sobre os perigos do otimismo forçado.
Schreiber vê mesmo um grau de terrorismo nessa fixação no pensamento positivo, diz que isso é chato, prejudicial a todo mundo e um elemento que enfraquece a coesão social: a felicidade virou sinônimo de prestígio pessoal, e problemas políticos são analisados como falhas individuais. A pesquisa psicológica e até a história estariam comprovando essa síndrome.
A única saída à vista para a autora é a rebelião: o xingamento e o palavrão são expressões de liberdade, não existe arte sem dor, e a raiva sempre se constituiu no motor do progresso. O mundo não foi transformado por pessoas felizes, mas pelos insatisfeitos, afirma ela.
Diga-se que no meio tempo entre a publicação do livro de Schreiber e as últimas notícias da Ucrânia, o palavrão e os xingamentos viraram forte manifestação de resistência do povo ucraniano ao ditador Putin e seus soldados. Realmente, com o pano de fundo de uma guerra como essa, a ideia do pensamento positivo, todo um povo sofrendo atrocidades, fica particularmente fora de propósito.