FILOSOFIA FEMININA

Está chegando às livrarias uma notável contribuição aos estudos da mulher e do pensamento feminista. Original na abordagem e na pegada, repleto de raro conteúdo informativo, DEZ MULHERES FILÓSOFAS – E COMO SUAS IDEIAS MARCARAM O MUNDO, de Armin Strohmeyr, foi o primeiro livro que o erudito editor Rodrigo Lacerda contratou com a VB&M, assim que começou seu trabalho na Record, pouco mais de um ano atrás – livro publicado em curtíssimo prazo, diga-se, para um desafio editorial dessa ordem. Mais um mérito de Rodrigo, além de detectar o título no catálogo de lançamentos da Piper Verlag, outra cliente alemã da VB&M, foi conferir à obra uma edição à altura convidando para a tradução a jornalista Kristina Michaelles, sempre garantia de correção e elegância de texto, e a professora Nastassja Pugliese, para um posfácio sobre a contribuição das mulheres ao pensamento filosófico brasileiro.

O livro de Strohmeyr vai muito além de comentar as conhecidas filósofas do século XX – Edith Stein, as Simone(s) Weil e Beauvoir, Hannah Arednt – em seus retratos biográficos de pensadoras ao longo da história ocidental. Ele começa com as ideias de Heloísa (c. 1099-1164), famosa pelo trágico amor a Abelardo e sua correspondência com ele, que Strohmeyr apresenta como muito mais do que uma amante, mas uma interlocutora de igual para igual com o fundador da escolástica francesa. Depois, ainda da Idade Média, vêm o misticismo de Hildegarda de Bingen (1098-1179) e o conceito de uma “cidade das mulheres” de Cristina de Pisano (1364-1430). O Iluminismo está representado por Émilie du Châtelet (1706-1749) e o Romantismo por Ricarda Huch (1864-1947). O século XX, depois de desvendar a trajetória das autoras já citadas, termina com a “liberdade responsável” de Jeanne Hersch (1910-2000).

Não foi uma mulher quem teve a ideia de escrever esse livro maravilhoso. Armin Strohmeyr é doutor em Estudos Germânicos e autor de vasta obra de comentário filosófico, dono de um texto simples e divino, capaz de esmiuçar temas complexos realçando os pontos mais fundamentais de longas trajetórias. Esperemos que esse detalhe de ser homem não impeça a adoção de DEZ MULHERES FILÓSOFAS nos muitos cursos de pensamento feminista pipocando por aí. É incomparável o que faz esse livo para demolir a noção de que a reflexão filosófica tenha sido em qualquer época domínio exclusivo dos homens. Nas condições mais adversas para pensar criticamente a realidade, mulheres ofereceram visões revolucionárias do mundo e da existência.