Miguel Sader
Acaba de ser publicado nos Estados Unidos um livro fundamental para se entender um assunto crucial nas eleições que se avizinham: inteligência e espionagem. COMPROMISED, de Peter Strzok, é considerado uma das joias mais valiosas no forte catálogo da editora Houghton Mifflin Harcourt nesta temporada. São relatos e reflexões narradas por um ex-agente do FBI sobre Donald Trump e o funcionamento do serviços de espionagem e inteligência em sua gestão. Publicado no começo do mês, o livro vem sendo pauta dos principais veículos de comunicação: “The New York Times”, “Washington Post”, CBS, Bloomberg, CNN…
Para se entender a importância de COMPROMISED, é importante falar sobre quem o assina. Strzok trabalhou de 1996 a 2018 na contra-espionagem norte-americana interceptando ameaças de inimigos externos do país. Inclusive foi ele quem liderou a investigação que comprovou que a Rússia atuou diretamente para influenciar as eleições de 2016 em apoio a Donald Trump – caso que inspirou a série “The Americans”. Antes disso, já havia conduzido as investigações do controverso caso dos emails privados de Hillary Clinton durante sua gestão como Secretária de Estado, de 2009 a 2013.
Em 2018, em razão de suas manifestas opiniões contrárias ao presidente, Strzok foi afastado do FBI. Mas àquela altura já tinha vivenciado o suficiente para escrever seu livro, no qual ele traz questões que deveriam estar no foco de qualquer discussão sobre política dos EUA: a partir de que momento um presidente se torna uma ameaça à segurança nacional? As relações de Trump com a Rússia fazem dele um perigo para o próprio país?
No dia seguinte ao primeiro debate eleitoral norte-americano, a pauta desta coluna não poderia ser outra. Respondendo a essas perguntas, COMPROMISED é o livro do momento, mas permanecerá fundamental por décadas à frente para se pensar a trágica Era Trump – trágica para os EUA e para o mundo.