A EXISTÊNCIA COMO NARRATIVA

Anna Luiza, agente da casa, compartilha sua Frase Sublinhada na página 104 de “A ridícula ideia de nunca mais de te ver” (Todavia, 2019), de Rosa Montero, autora de quem é fã desde a leitura de “A louca da casa” (Agir), nos idos dos anos 2000. No trecho escolhido, a narradora, que é a própria autora, reflete sobre a condição narrativa de nossa existência e a necessidade de se escrever a cada dia a história de nossas vidas. No trecho, como no livro, Rosa Montero trata do luto e suas consequências, mesclando com maestria os processos de luto vividos por ela própria e pela icônica cientista polonesa Marie Curie quando enterraram seus maridos. 

“Para viver, temos de nos narrar; somos um produto da nossa imaginação. Nossa memória é, na verdade, um invento, uma história que reescrevemos a cada dia (o que lembro hoje da minha infância não é o que eu lembrava há vinte anos); o que significa que nossa identidade também é fictícia, já que se baseia na memória. Sem essa imaginação que completa e reconstrói nosso passado e que outorga ao caos da vida uma aparência de sentido, a existência seria enlouquecedora e insuportável, puro ruído e fúria.”