Yasmin Ribeiro
Um dos mais tradicionais e prestigiados prêmios da literatura alemã, o Ingeborg Bachmann, foi atribuído na semana passada a Nava Ebrahimi, autora alemã-iraniana, que escreveu o romance SECHSEHN WÖRTER (Dezesseis palavras). A premiação confirma uma tendência já comentada no blog VB&M. A renovação literária do idioma de Goethe abre as portas para uma diversidade nada ariana, revelando autores com nomes sonoros como o de Nava, ou de Shida Bazyar, Pierre Jarawan e Hengameh Yaghoobifarah, que, em suas obras, oferecem diferentes perspectivas acerca da condição de imigrante na Alemanha, tanto em termos políticos como identitários, reflexões sobre pertencimento e origem.
Nava Ebrahimi estreou na literatura com DEZESSEIS PALAVRAS, publicado na Alemanha pela btb Random House e na Itália pela Keller, vencedor do Austrian Book Prize em 2017 na categoria romance de estreia. Nesse romance, Ebrahimi narra a viagem de uma jovem iraniana de volta ao seu país após a morte da avó e reflete sobre a ambivalência de uma identidade dividida entre duas culturas. Em 2020, a autora lançou seu segundo romance, DAS PARADIES MEINE NACHBARN (O paraíso do meu vizinho), pela mesma editora alemã.
Filha de ativistas iranianos naturalizados alemães, Shida Bazyar ganhou diversos prêmios por sua obra, publicada na Alemanha pela Kiepenheuer & Witsch e vendida para tradução na França, Itália, Holanda e Turquia. DREI KAMERADINNEN (Irmãs em armas), seu segundo romance, ecoa “Drei Kammeraden”, de Erich Maria Remarque, e faz um belo retrato da amizade incondicional entre três mulheres de ascendência árabe numa história sobre feminismo, racismo, relações de poder e a ascensão da extrema-direita nos dias de hoje.
Best-seller internacional originalmente publicado na Alemanha pela Piper em 2018 e lançado no Brasil pela Jangada/Pensamento no ano passado, NO FINAL FICAM OS CEDROS é o primeiro romance do autor alemão-libanês Pierre Jarawan, e narra a busca de um menino alemão de origem árabe que parte ao Líbano para encontrar seu pai, mas depara-se com um país arrasado pela guerra. Em seu segundo livro, EIN LIED FÜR DIE VERMISSTEN (Uma canção para os perdidos), publicado em 2020, a trama se inicia com a descoberta de dois cadáveres durante a Primavera Árabe em 2011.
Apontada como um dos nomes mais fortes da nova literatura alemã, a autora de ascendência iraniana Hengameh Yaghoobifarah publicou seu primeiro romance em fevereiro pela Aufbau. MINISTERIUM DER TRÄUMER (Ministério dos sonhos) é um relato forte sobre o luto e laços familiares que também passa um panorama sincero da Alemanha atual, principalmente no que diz respeito à imigração. A “Der Spiegel” classificou Yaghoobifarah como uma “popstar” à frente de seu tempo, e as vendas do romance já ultrapassaram 24 mil exemplares no país, com direitos de tradução vendidos para a holandesa De Geus em leilão.
Não surpreende que haja tanta literatura sobre a condição imigrante em língua alemã. É um aspecto inquestionável da vida na Alemanha de hoje, e o real alimenta a boa ficção. Interessante a forte presença de autoras de origem iraniana, podendo indicar o alto nível educacional das famílias refugiadas do regime dos aiatolás.