ALBERTO FLAKSMAN LÊ SIGRID NUNEZ

 

ALBERTO FLAKSMAN LÊ SIGRID NUNEZ

O economista e tradutor Alberto Flaksman (@abeflaksman) volta à coluna para comentar a leitura de SEMPRE SUSAN (@editorainstante), de Sigrid Nunez.

“Acabo de ler SEMPRE SUSAN (o título do original em inglês é surpreendentemente idêntico ao da sua tradução em português), um relato das lembranças guardadas pela escritora Sigrid Nunez a partir da sua convivência com a então já consagrada e célebre ensaísta Susan Sontag. Corria o ano de 1976 quando Nunez, então com 25 anos, começou a trabalhar como assistente pessoal de Sontag, que tinha 43, na cobertura em que esta vivia em Nova York. O livro é simplesmente delicioso, mesmo para quem nunca leu nada da autora de “Against Interpretation”. Um texto que se devora em poucas horas e termina deixando um gostinho de quero mais. Nunez não se dispõe a fazer uma biografia sisuda, mas registra observações sobre alguns hábitos de Sontag – desde os longos dias e noites virados em frente à sua Olivetti elétrica até a sua paradoxal necessidade de constante companhia e a busca incessante de relações amorosas tanto com homens (como o poeta Joseph Brodsky) quanto mulheres – e curiosidades, como o fato da mecha branca que se tornou a marca registrada visual da autora exibir, na época, a cor real dos seus cabelos, enquanto o restante é que era pintado de preto. Mesclando sentimentos e ideias de Sontag com gossips sobre a sua intimidade, num texto estruturado como um fluxo livre de memórias, Nunez traça um retrato fascinante de como era a vida de intelectuais progressistas e, ao mesmo tempo, materialmente bem sucedidos, na Nova York que já era a grande irradiadora de cultura do último quarto do século XX.”