ALPERCATAS RUDES NO TERRENO SAGRADO

Na VÍDEO-RESENHA, Anna Luiza se debruça sobre LAMPIÃO E MARIA BONITA: UMA HISTÓRIA DE AMOR E BALAS, primeiro livro do escritor e jornalista Wagner Barreira, publicado pela Planeta em 2018, em que o autor parte do conceito de ficção coletiva cunhado pelo filósofo alemão Hans Magnus Enzelsberger para driblar a falta de documentação existente e escrever a biografia de um dos casais mais icônicos da história brasileira. O resultado é um texto de não ficção que mais parece um romance e que, com maestria narrativa, reconstrói a trajetória dessas personagens que romperam com as normas e diretrizes políticas vigentes e, nas palavras do Wagner, “apresentaram ao país uma forma diferente, assustadora e sedutora de se viver”. Contemporâneo do tenentismo, Lampião (e com ele Maria Bonita) testemunhou a transição da República Velha para o Estado Novo, esbarrou na Coluna Prestes, entrou para a lista da Internacional Comunista dos anos 30 como exemplo de guerrilheiro popular e de ação pré-revolucionária, tornou-se inimigo número um de Getúlio Vargas e entrou para o imaginário popular como grande herói do Nordeste. Nas palavras de Rubem Braga, “suas alpercatas rudes pisam algum terreno sagrado”.