Autran Dourado

Waldomiro Freitas Autran Dourado (1926-2012) nasceu em Patos, Minas Gerais, em janeiro de 1926. Filho de juiz, morou em diversas cidades. Em 1940 foi cursar a Faculdade de Direito em Belo Horizonte, ao mesmo tempo que trabalhava como jornalista e taquígrafo da Assembleia Legislativa. Sua estreia na literatura deu-se com a novela Teia, em 1947. Em 1950, publicou Sombra e Exílio, que ganhou o Prêmio Mário Sette do Jornal de Letras. Em 1952, publicou Tempo de Amar, romance que recebeu o Prêmio Cidade de Belo Horizonte.
Em 1955, já morando no Rio de Janeiro, publicou Nove Histórias em Grupos de Três, que recebeu o Prêmio Artur Azevedo do Instituto Nacional do Livro. Durante cinco anos foi Secretário de Imprensa da Presidência da República, no governo de Juscelino Kubitschek. Em 1961, o autor se destacou com a publicação de A Barca dos Homens, romance que foi escolhido como o melhor livro do ano pela União Brasileira de Escritores. Vencedor do Prêmio Camões (2000) e do Prêmio Machado de Assis (2008), Autran teve suas obras traduzidas para vários idiomas.
UMA VIDA EM SEGREDO
Após a morte de seu pai, a jovem Biela, de 17 anos, já órfã de mãe, passa a morar com Conrado, seu primo, que a leva para viver com sua família, numa pequena cidade. Constança, esposa de Conrado, busca adaptar Biela a uma vida social de acordo com as posses da família e para tanto encomenda belos vestidos e a ensina a se portar como uma jovem educada e rica. Mas Biela se sente bem apenas ao lado dos empregados da fazenda onde mora, com quem passa a conviver após uma grande desilusão amorosa. Segundo o próprio autor, sua obra favorita, este romance deu base a um filme de 2001.
Veja o trailer do filme: aqui.

Status/Publicação: Originalmente publicado pela Editora Civilização Brasileira (Brasil) em 1964. Republicado pela Rocco (Brasil) em 2000. Publicado pela Knopf (EUA), em 1969; pela Carl Hanser Verlag (Alemanha) e pela Editorial Bruguera (Espanha). [132 páginas]
SINOS DA AGONIA
O romance é uma recriação do mito senequiano de Fedra e Hipólito. A história, que se passa na Vila Rica do século XVIII, é contada em três perspectivas. João Diogo Galvão, sua mulher, a ruiva Malvina, e seu filho Gaspar, enteado de Malvina, compõem os vértices de um triângulo amoroso impossível. Ao mameluco Januário cabe ser a mão armada pelo destino para precipitar o clímax final. Esses rivais são, em grande medida, o oposto um do outro e, por isso, se completam. Dilacerados pelo amor impossível e pela agonia, estes são personagens clássicos em seu desenho. Intensamente apaixonados, culpados, vingativos, eles vivem seus fados com o fatalismo dos protagonistas dos grandes dramas.
Status/Publicação: Publicado pela Rocco (Brasil), em 1999; pela Métailié (França), em 1988; pela Peter Owen (Inglaterra), em 1988; e pela Alfaguara (Espanha), em 1978. [322 páginas]
ÓPERA DOS MORTOS
Lançado originalmente em 1967 e incluído pela Unesco numa coleção das obras mais representativas da literatura mundial, essa narrativa é um mergulho no passado da família Honório Cota a partir de um velho sobrado, que em sua arquitetura barroca, já corroída pelo tempo, vai revelando o destino de seus moradores, marcados pela tragédia, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais. Com o correr dos anos, o casarão vai se impregnando cada vez mais dos fantasmas dos antepassados, que transformam objetos e ambientes em signos da morte. É neste ambiente opressivo e desolado que Rosalina vai viver depois da morte dos pais. Solteira, isolada do mundo e tendo como única companhia a empregada, a muda Quiquina, ela passa seus dias fazendo flores de pano e vagando entre relógios parados e paredes carcomidas.
A rotina do sobrado vai ser alterada com a chegada de José Feliciano. Biscateiro, em busca de trabalho de cidade em cidade, Juca Passarinho, como é chamado por todos, vai aos poucos entrando no universo enigmático da casa e na vida da austera Rosalina.

Status/Publicação: Publicado pela Rocco (Brasil), em 1999; pela Adda Korn Editora (Argentina), em 1987; e pela Peter Owen (Inglaterra), em 1980. [252 páginas]
O RISCO DO BORDADO
Ambientado na mítica Duas Pontes, cidade que retornaria em outros livros do autor como uma síntese do universo interiorano de seus personagens, este romance é uma viagem ao passado do escritor João da Fonseca Ribeiro, que volta ao cenário de sua infância. Ao encontrar antigos moradores da cidade, parentes e companheiros de infância, ele vai montando uma espécie de quebra-cabeças entre o vivido e o imaginado, completando e expandindo fragmentos de memória que são sua narrativa de infância e adolescência. Como num típico romance de formação, o leitor vai aprendendo como João se tornou o que é, sua dura trajetória na descoberta da sexualidade, da amizade, da traição e da literatura.
Prostitutas, jagunços, antepassados mortos, parentes velhos, figuras características de Duas Pontes cruzam o caminho de João, que desta forma vai enxergando, retrospectivamente, o risco sob o bordado que, afinal, é a sua própria história de vida.

Status/Publicação: Publicado pela Rocco (Brasil), em 1999; pela Penguin (Inglaterra), em 1984; pela Alfaguara (Espanha), em 1978; pela Métailié (França), em 1994; e pela Gyldendal (Noruega), em 1992. [224 páginas]
BARCA DOS HOMENS
A narrativa se desenrola a partir de uma perseguição a um homem que teria roubado uma arma. Fortunato, o fugitivo em questão, é um débil mental que vai mexer com a realidade e os sonhos, o consciente e o inconsciente, dos habitantes e veranistas de uma ilha do litoral brasileiro, fazendo aflorar sentimentos e desejos ocultos. Provocados, desejos reprimidos reaparecem com a força de uma ressaca, em ondas que ameaçam arrebentar tudo, mas que, por algum motivo, acabam fracas, lambendo a areia. O ciclo recomeça e, um dia, pode ser que o final seja diferente. A ação se desenrola a partir da narrativa de diferentes personagens, exibindo ao leitor diversos pontos de vista de um mesmo acontecimento. Há Luzia, que sempre morou na ilha; a mãe de Fortunato, contadora de causos, que mistura o pensamento com a reza; Maria, a burguesa entediada com o casamento que redescobre a sexualidade e a identidade em um encontro aparentemente implausível.
Os tipos prosseguem com Godofredo, o marido em crise de idade e de autoridade; o tenente Fonseca, duro e incorruptível, mas apaixonado por Maria. Há Frei Miguel que tenta salvar Fortunato do implacável tenente, e Tonho, o pescador desiludido de quem o perseguido espera a salvação. Eles — além dos presos, dos soldados, das prostitutas, das crianças — participam da trama até o desfecho, com as diversas narrativas que se sucedem e se combinam.

Status/Publicação: Publicado pela Rocco (Brasil), em 1999.