Você sabia que quem expulsou os holandeses do Brasil foram oficiais pretos? Você sabia que senzalas, ao contrário do que se diz, eram o abrigo de famílias tão bem constituídas ao longo de gerações, que resultavam numa “aristocracia”? Você sabia que escravos liam? Você sabia que as mulheres afro-brasileiras e afro-mestiças foram a segunda classe mais endinheirada nas Minas Gerais do século XVIII, depois dos homens brancos? Você sabia que os imperadores D. Pedro I e D. Pedro II contaram, entre seus maiores conselheiros, ministros e médicos, com afro-mestiços? Que um dos políticos mais importantes do II Reinado era filho de uma vendedora de legumes, Maria-você-me-mata, e de um padre? E que um dos mais belos teatros do país, o Amazonas, foi ideia de um preto? Você sabia que, no início do século XX o nome brasileiro mais conhecido até no Japão, foi de um psiquiatra preto? Que tivemos um presidente afro-mestiço? Está na hora de falar deles.
Esse livro narra situações e biografias de pretos que venceram barreiras e encontraram nas brechas de uma sociedade escravocrata e dolorosamente desigual, o caminho para o sucesso. Para muitos de nós, a história do Brasil não passa de uma luta entre senhores e escravos, brancos e pretos. Errado. Errado, porque desde o século XVIII a mestiçagem, as alforrias e o enriquecimento de pretos e pardos livres foi um fato. Porém, um fato pouco estudado e pouco divulgado. Apesar da proibição de cargos eclesiásticos, títulos e postos da administração aos então chamados “infectos de sangue”, nada impediu que pardos e negros ocupassem posições importantes. Apagavam-se os chamados “defeitos de qualidade”, pois, embora considerados inferiores, tais aliados da monarquia – e, depois, do Império – foram indispensáveis para a defesa, o gerenciamento e o desenvolvimento de vastidões brasileiras.