BRIGITTE REIMANN, A ERNAUX-SAGAN DOS ALEMÃES

Era uma vez numa cidadezinha da antiga Alemanha Oriental, Hoyerswerda, uma equipe de trabalhadores de construção limpando um prédio para uma reforma completa do imóvel, quando eles dão, num andar sem luz, onde se guardavam pás e ferramentas, com várias caixas de papéis, documentos e manuscritos. Incrivelmente, ou nem tanto, em se tratando de Alemanha, eles reconhecem o nome de Brigitte Reimann na papelada, ela que está entre os maiores escritores da literatura alemã oriental, comparável em importância somente a Christa Wolf. Diligentemente, os operários juntam tudo, telefonam para a imprensa e entregam o material.

As caixas guardavam toda a correspondência de e para a autora, muitos documentos burocráticos, mas também os manuscritos de dois romances curtos, IRMÃOS e BEM VINDO A UM DIA DE TRABALHO, ambos inéditos no Brasil. Ainda não se sabe se os originais refletem perfeitamente as versões publicadas dessas obras, ou se foram aplicadas alterações no processo editorial. Não importa, os manuscritos se constituem em valiosos documentos.

Brigitte Reimann morreu de câncer antes de completar 40 anos, em 1973. A imensidão de seu talento permitiu que ela prosseguisse até o fim com sua carreira literária sob o duro regime da Alemanha Oriental. Em 1968, ela recusou-se a assinar a declaração da Associação de Escritores da Alemanha Oriental que aprovou a invasão da Tchecoslováquia pelas tropas soviéticas. Nos debates literários contemporâneos, Reimann é frequentemente comparada às conhecidas francesas Annie Ernaux e Françoise Sagan, e à dinamarquesa Tove Diletsen, que em breve estará bem publicada no Brasil.

Uma das mais impressionantes narrativas sobre o impacto da separação dos alemães em dois países em tudo opostos, IRMÃOS conta a história de uma família em Berlim Oriental composta pela mãe, filha e dois filhos. Era 1960, a cidade acabara de ser dividida, com o estabelecimento de check-points para a passagem de um lado a outro. O filho mais velho, Joachim, fugiu para o lado ocidental, o caçula, Uli, quer segui-lo, mas Elisabeth, filha do meio que ainda acredita na possibilidade de construir uma sociedade mais justa a partir da premissa comunista, fará de tudo para que ele fique – com trágicas consequências.

IRMÃOS foi traduzido para o inglês por Lucy Jones, e SIBLINGS terá lançamento nos EUA e na Grã-Bretanha pela Penguin Classics e pela Transit Books respectivamente, e sairá também pela Is Kultur na Turquia. Na Alemanha, a Aufbau prepara grande relançamento de toda a obra de Brigitte Reimann para o aniversário de 50 anos de sua morte, em fevereiro de 1973.