DONAS DE CASA E O FASCISMO

O romance tema dessa Vídeo-Resenha é NASCIMENTO E MORTE DA DONA DE CASA, de Paola Masino, pequena joia da literatura italiana, recém publicada pela Instante, que se faz especialmente relevante nesta semana que começou com as motocadas mussolínicas do presidente Bolsonaro. Publicado pela primeira vez em 1945, o romance fora censurado durante muitos anos por fazer dura crítica ao regime fascista e à cerceante noção de feminilidade que impunha sobre mulheres e homens italianos. A figura da dona de casa é posta em xeque por uma narradora onisciente que joga luz sobre o esfacelamento da subjetividade feminina em prol da adequação a um modelo de sociedade machista, misógina e violenta para a qual o papel da mulher deve se circunscrever ao âmbito doméstico. Qualquer semelhança com a visão do atual governo brasileiro, infelizmente, não é mera coincidência. Mas a leitura desse romance vai muito além do âmbito político e oferece uma narrativa deliciosa, por vezes surrealista, que permeia as reflexões e os devaneios de uma mulher que sabe cumprir um papel social fadado ao fracasso.