DRUMMOND REDIVIVO

Marco Morel, historiador e autor do inédito O DIA EM QUE NAPOLEÃO QUIS INVADIR O BRASIL, entre outros títulos de não-ficção, oferece sua Frase Sublinhada na página 85 de “O Sentimento do Mundo” (José Olympio, 1983), de Carlos Drummond de Andrade. Ele destaca um trecho da Elegia 1938, poema escrito num momento de luta antifascista, e comenta: “O aparente despojamento de Drummond ressalta a força existencial que transborda de seus versos e cala fundo em milhares de solidões que, através de sua poesia, se transformam em solidárias. O poeta prometeu destruir o mundo capitalista como uma pedreira, ou um verme, e lamentou não poder explodir sozinho a ilha de Manhattan. Quem já viajou por suas páginas pode confirmar: nunca foi o poeta de um mundo caduco. Não vamos celebrar o medo, escreveu sobre a II Guerra Mundial, mas que bem pode servir para batalhas atuais. Não nos afastemos muito, não vamos até a lua e, sim, para o chão do coração, vamos de mãos dadas. Drummond redivivo. Adiaremos, mais uma vez, a felicidade coletiva para outro século?”

“Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”