José Almeida Júnior é defensor público e autor de ÚLTIMA HORA (Record), vencedor do Prêmio Sesc de Literatura em 2017, e O HOMEM QUE ODIAVA MACHADO DE ASSIS (Faro), romance indicado ao Prêmio Jabuti em 2018.
VB&M: Como o isolamento tem influenciado seu processo de criação?
JAJ: Eu estava escrevendo com regularidade o meu novo romance, achava, inclusive, que poderia terminar a primeira versão ainda em 2020. Mas a crise do novo coronavírus mudou tudo. Os filhos estudando em casa, o trabalho em home office como defensor público, as tarefas domésticas, tudo me tirou o tempo e a concentração para escrever. No entanto, canalizei a criatividade para outros projetos. Recentemente, resolvi fazer uma série de lives no Instagram, com professores, escritores e profissionais do livro, como forma de contribuir com o debate na área da literatura e da política.
VB&M: Quais os maiores aprendizados e desafios deste período?
JAJ: Em termos de aprendizado, o período em casa me aproximou ainda mais da minha família. Posso fazer coisas antes impensáveis, como jogar xadrez com meu filho no meio da tarde, ainda que depois eu tenha que trabalhar até tarde da noite para compensar. O principal desafio para mim é tentar manter a sanidade mental, em meio a uma pandemia, com centenas de pessoas morrendo diariamente, além de ter que lidar com um governo federal totalmente despreparado para minimizar os efeitos da crise.
VB&M: Que mudanças você espera ver no pós pandemia? O que veio pra ficar e o que será deixado para trás?
JAJ: Eu não sou otimista quanto ao mundo pós pandemia. Certamente haverá mudanças, mas não sabemos exatamente para qual direção. Acho que os países se tornarão mais fechados, talvez a xenofobia aumente. A redução de poluentes causada pela quarentena não deve durar muito tempo. Por outro lado, a pandemia enfraqueceu o discurso ultraliberal. O Estado será cada vez mais necessário para retomar a economia dos países e para reduzir a pobreza acentuada com a COVID-19.