Luize Valente é documentarista e autora dos romances SONATA EM AUSCHWITZ, O SEGREDO DO ORATÓRIO e UMA PRAÇA EM ANTUÉRPIA, assim como do livro de contos DO TEMPO EM QUE VOYEUR PRECISAVA DE BINÓCULOS, todos publicados pela Record.
VB&M: Como o isolamento tem influenciado seu processo de criação?
LV: Escritores têm no isolamento seu habitat natural. A escrita é por natureza solitária. Costumamos, de certa forma, nos alienar do mundo real enquanto escrevemos, mergulhamos no mundo dos personagens, da trama, da ficção. No entanto, pelo menos no meu caso, está impossível me alienar neste momento. Está muito difícil conseguir me concentrar, ficar indiferente ao momento mundial e, em particular, ao do Brasil. Talvez, pelo fato de a realidade nunca ter soado tão ficcional, esteja tão difícil deixá-la de lado para mergulhar na ficção.
VB&M: Quais os maiores aprendizados e desafios deste período?
LV: Ironicamente, acho que o maior aprendizado e o maior desafio são os mesmos… controlar a ansiedade, viver um dia após o outro.
VB&M: Que mudanças você espera ver no pós pandemia?
LV: Não quero parecer Poliana, mas realmente espero encontrar um mundo mais solidário, onde a relação entre humanos, e dos humanos com o tempo, seja mais qualitativa, menos caótica, com mais empatia. Enfim, um só mundo e não vários mundos, como vivemos até hoje. O que veio pra ficar e o que será deixado para trás? No lado prático, a mudança de hábitos cotidianos, com a inclusão de máscaras no vestuário, redução de viagens, eventos, etc. No âmbito mais interiorizado, acho que vale citar John Donne: “a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano”. Acho que será impossível ficarmos alheios a tanta desigualdade e invisibilidade. Mas talvez esteja sendo novamente Poliana…