ENTREVISTA: MARIANA ROLIER

Mariana Rolier, Publishing Manager na Storytel Brasil, conta e comenta a bem-sucedida experiência da Storytel com o projeto de contos em podcast, Vai ficar tudo bem, e compartilha sua visão do mercado do livro em 2021.

VB&M: Qual tem sido para você o maior desafio da quarentena?

MR: Manter a mente sã e criativa. A (falsa) sensação de controle sobre nossas vidas foi perdida neste novo momento e é muito difícil manter foco, a disciplina e a criatividade sem saber o que nos espera amanhã. Estou trabalhando com muitos autores e sei que é um sentimento que todos compartilhamos. O cenário está muito sombrio e, a não ser que você produza para este cenário, tudo o mais está comprometido.

Trabalhar com cultura sempre foi difícil, mas tem sido especialmente complicado neste momento. Vimos o desmonte cultural acelerar sobre as nossas cabeças sem que tivéssemos tempo de achar uma solução. Mas também vimos de modo aberto e geral como a cultura é redentora, essencial e benéfica em nossas vidas. Sinto a sociedade mais aberta para este conceito, mas é difícil se levantar rapidamente após ser atropelado.

VB&M: Quais as propostas e soluções mais interessantes que você pensou ou registrou?

MR: A primeira coisa que pensei foi em como manter autores produtivos e em como trazer alento para as pessoas. Daí surgiu o projeto Vai ficar tudo bem, da Storytel, no qual publicamos 25 histórias que se passam durante a quarentena. Foi um projeto intenso, corrido e possível principalmente porque os autores estavam engajados e nossos parceiros também desejavam oferecer cenários melhores, uma mão amiga, um final feliz para quem precisasse. A VB&M foi essencial neste projeto. Mobilizamos autores que hoje são a essência da literatura brasileira para essa tarefa, e os resultados foram sensacionais. Como criadores de conteúdo, como plataforma acessível e como difusores de histórias, entendemos a importância de produzir e promover grandes autores e grandes obras, e acredito que o projeto Vai ficar tudo bem atingiu essa meta. Há histórias de todos os tipos. Há drama, comédia, reflexão e bons personagens. Alguns deles não vão me abandonar nunca e torço para vê-los em outras histórias, ou pelo menos em cenários pós-quarentena.

Além disso, a Storytel, em uma iniciativa do Country Manager André Palme, estendeu o período de experiência do aplicativo de 14 para 30 dias gratuitos, para que as pessoas tivessem mais tempo e pudessem ouvir mais histórias. Foi uma tremenda iniciativa também para oferecer cultura de qualidade a todos.

Finalmente, desenvolvemos outros projetos estratégicos com editoras parceiras para promover o conteúdo e também para dar suporte neste momento, e têm dado bons resultados.

Enquanto pudermos, acho que não podemos parar de pensar em soluções e ideias. É o que nos move.

VB&M: Qual a sua visão para o mercado em 2021?

MR: Penso que teremos um ano com escolhas mais estratégicas, menos publicações e mais foco na originalidade. O tempo de grandes volumes de publicação, acredito, acabou. Será um ano de “menos é mais”, em que obras essenciais terão mais destaque. O conceito de entretenimento também tomará outra forma, acho difícil criar histórias puramente divertidas sem grandes compromissos. A gente não consegue mais viver sem pensar nas consequências dos nossos atos, então teremos alguma densidade semelhante dentro do entretenimento.

Também acredito que 2021 será um ano de mais possibilidades para histórias em plataformas diferentes. A audiência estará mais experiente em acessar histórias e autores nas plataformas que preferir, e os editores, mais atentos às possibilidades e parcerias. Dificilmente poderemos criar ou produzir sozinhos.