ENTREVISTA: MAURÍCIO TORRES ASSUMPÇÃO

Maurício Torres Assumpção é jornalista e autor de A HISTÓRIA DO BRASIL NAS RUAS DE PARIS, publicado pela Leya, e CAFEÍNA, ainda inédito. Atualmente, trabalha como redator na Radio France Internationale.

VB&M: Como o isolamento tem influenciado seu processo de criação?

MTA: Acho que passei por três momentos distintos. No primeiro, o Covid ainda parecia uma ameaça distante, e a ideia de confinamento não me angustiava. Estava pronto para abraçar a solidão, a paz e o silêncio – tudo o que preciso para escrever. Depois, quando os números começaram a virar nomes, e a tragédia brasileira se revelou bem maior do que o imaginado, perdi o foco e a concentração. O silêncio foi substituído pela cacofonia de chamadas coletivas pelo Skype, Zoom, Whatsapp… Agora, neste terceiro momento, a vontade de escrever retornou, embalada pela indignação e pela revolta. Feroz, volto ao teclado com as únicas armas que conheço: palavras.

VB&M: Quais os maiores aprendizados e desafios deste período?

MTA: O confinamento me surpreendeu em Londres, num apartamento de quarto e sala, tão vazio quanto as ruas da cidade. Não tenho cama, nem mesa, nem cadeira. Na solidão e no silêncio, aceitei uma vida monástica, senão espartana, salva pela internet – essa irônica janela que se abre ora para o Céu, ora para o Inferno. Busco um equilíbrio. Informação sem sensacionalismo. Cautela sem paranoia. Preocupação sem pânico. Isso tudo vai passar. Com certeza, vai passar. E disso tudo, o Brasil e o mundo saberão tirar as suas lições. Não posso esperar menos do que isso.

VB&M: Que mudanças você espera ver no pós pandemia? O que veio pra ficar e o que será deixado para trás?

MTA: Sou incorrigivelmente otimista. A situação é grave, mas a humanidade já passou por piores, bem piores. Em momentos de crise como esse, a ciência avança aos saltos. Uma vacina surgirá; medicamentos serão desenvolvidos; novos procedimentos de segurança, adotados. E a vida voltará, dentro do possível, ao normal. Voltaremos a ir ao cinema, ao teatro e aos concertos. Voltaremos, enfim, a nos abraçar! Disso não tenho a menor dúvida. Mesmo que portemos máscaras, ou o que for necessário. Melhor ainda, voltaremos a ter lançamentos de livros! E as pessoas lerão mais, um prazer redescoberto durante o confinamento (aqui na Inglaterra, as editoras já celebram. A venda de livros aumentou durante a crise do Covid).