L’AGENZIA A TORINO

 

L’AGENZIA A TORINO

Finita a temporada de feiras da primavera (europeia), e a última parada foi Turim, onde fizemos nossa estreia no Salone Internazionale del Libro. Além de deliciosa, como tudo na Itália, a feira de Turim, majoritariamente voltada para a indústria italiana do livro, prima pela organização, mas também deixa evidente a busca de uma nova abertura ao mercado estrangeiro. Nos surpreendeu muito positivamente o sistema de agendamento de reuniões, todo automatizado e organizado pelo próprio evento – liberando os participantes da noiosa e ansiosa tarefa de marcar dezenas de reuniões com uma antecipação incompreensível -, e, ao vivo, a receptividade e a vontade dos italianos de descobrir o que seus pares do exterior têm a oferecer, visando tanto à internacionalização da literatura italiana, quanto à publicação de literaturas estrangeiras para os leitores na Itália. É uma feira ainda bastante local, mas como bem indica o nome do Salão, cada vez mais internacional.

Foram três intensos dias de reuniões no Rights Centre (para nós, a feira terminou na sexta-feira, mas para o público e os editores e agentes italianos, foi até ontem), e como seria de se esperar na Itália, maravilhosos eventos pós feira, entre aperitivos, jantares e festas. La dolce vita, afinal de contas. O grande destaque de nossa programação social foi o delicioso jantar piemontese oferecido sexta feira pelo Grupo Mauri Spagnol na sede da Fondazione Circolo dei Lettori, no piano nobile do luxuoso Palazzo Graneli della Roccia, projetado pelo arquiteto Giovanni Francesco Baroncelli para um concurso de arquitetura em 1680 e inaugurado no ano de 1700.

Entre os salões de pé direito infinito, tetos preenchidos por afrescos e mesas fartas de pratos e vinhos da região, encontramos colegas e amigos queridos como Ella Sher, nossa cliente e coagente italiana, e Viviana Vuscovich, diretora de direitos do grupo Mauri Spagnol; e conhecemos escritoras de quem somos fãs e cujos livros vendemos no Brasil: as italianas Stefania Auci, autora de OS LEÕES DA SICÍLIA, bela saga da família Florio, publicada com sucesso pela HarperCollins; e Alessandra Selmi, que assina outra forte saga familiar, AL DI QUA DEL FIUME (algo como “No lado de cá do rio”, em tradução livre) a sair no Brasil pela Gutenberg este ano; e a autora basca Katixa Agirre, de AS MÃES SÃO MUITAS, uma inovadora narrativa literária de suspense, que reflete sobre a maternidade, publicada pela Primavera. De lá seguimos para uma festa al di la del fiume, num casarão que é sede do Circolo dei Canottieri à beira do rio Pó, para o vero beverdì (charmoso sextou italiano), onde encontramos nosso queridíssimo cliente e amigo Emanuele Malpezzi, da agência literária PNLA, de Piergiorgio Nicolazzini. Mais cedo neste dia, Emanuele nos convidara a subir à icônica pista de teste de automóveis no topo do prédio da antiga fábrica da Fiat em Lingotto, transformada em centro comercial e cultural e local onde ocorre hoje a feira, para assistir à mesa em homenagem ao centenário de nascimento de Goliarda Sapienza, celebrado no exato dia 10 de maio. Goliarda é talvez a mais potente voz de uma geração de escritoras italianas do pós-guerra, que estão no panteão da literatura nacional.

Seu romance L’ARTE DELLA GIOIA (A ARTE DA ALEGRIA), considerado o capolavoro de uma obra como um todo notável, sairá em breve pela Autêntica Contemporânea. Lá de cima, com o dia ainda claro e o céu límpido, Goliarda sendo lida e comentada para uma plateia atenta, dava para ver os Alpes imponentes que abraçam Torino.

No sábado, a pouca energia que nos restava foi dedicada ao evento não-oficial de encerramento da feira, a tradicional festa da Scuola Holden, a escola de escrita criativa de Turim, em mais um palazzo histórico. Quem nos convidou foram os queridos amigos e clientes da Otago Literary Agency, Vito di Battista e Marco Nardini, a quem, aliás, devemos um agradecimento especial. Desde o nosso primeiro dia na Itália, quando desembarcamos em Bolonha, onde a Otago está baseada, a dupla de agentes e sócios atuou como guias excepcionais, além de ótimas companhias. Agora é hora de fazer as malas, com o coração apertado, mas com a sensação de que o período da LVB & Co na Itália foi produtivo e enriquecedor. Esperamos estar de volta em breve, quem sabe em 2025, mas antes é preciso recarregar as baterias para encarar o segundo semestre que promete ser tão intenso quanto o primeiro, com Bienal, Flip e Frankfurt.