Autor de “Soda Cáustica Soda” (Patuá), entre vasta obra poética, o poeta e advogado Lúcio Autran compartilha sua leitura atual: o majestoso “Guerra e Paz” (Nova Fronteira), de L. Tolstói.
Acossado pela certeza de que não terei tempo para ler tudo que gostaria, resolvi correr contra o tempo para sanar algumas lacunas imperdoáveis. Uma delas era “Guerra e Paz”, do Tolstói, livro em torno do qual há a falsa mística de ser “pesado”, volumoso. Bobagem, trata-se de um livro delicioso que flui apaixonadamente. Como toda literatura de qualidade, permite leituras nos mais diversos planos, desde o que fica preso ao enredo, a mais precária das leituras, de resto genial, até outras prospecções mais verticais. Tem me impressionado a técnica de, subitamente, passar de forma quase imperceptível das cenas mundanas para um cenário de guerra – aliás, batalhas narradas de forma emocionante – para retornar, muitas vezes com elegante acidez, ao mundanismo da corte russa do início do século XIX. Também é fascinante a construção das personagens e suas relações, como, por exemplo, o paulatino surgimento do amor do Príncipe André por Natacha. Não bastasse, é uma excelente aula de História.
Pode-se também o ler sob o prisma do determinismo histórico, mas a meu ver é uma leitura empobrecedora, ante essa catedral literária.
Enfim, um livro fascinante.