NOVOS PAPEIS E VOZES PARA SARAH JESSICA PARKER

A coluna CONVERSA COM (A) GENTE traduz a entrevista de uma grande celebridade que VB&M passou a considerar sua nova cliente: a atriz, agora editora, Sarah Jessica Parker. SJP falou ao Oprah Daily sobre seu novo selo literário em parceria com Molly Stern, fundadora da Zando, que se tornou cliente da agência para o Brasil no final de 2021. Stern definiu a política editorial de selos com curadoria de figuras de ponta da cultura norte-americana, como o músico John Legend e a escritora Gillian Flynn, e SJP será curadora de quatro a seis livros da Zando ao longo dos próximos três anos. Na entrevista, a atriz, que já havia colaborado com Stern no selo SJP for Hogarth, fala sobre sua relação com a literatura, onipresente em sua agitada rotina de trabalho, sobre suas ambições para o novo selo e a busca de vozes e narrativas diversas que expandam os horizontes literários ocidentais: “[…] embora haja um lugar para cada livro no mundo, não estou particularmente interessada em comédias românticas ou protagonistas nova iorquinas que vivem no Upper East Side. Estou muito mais intrigada pelo autor que conta algo novo, inexplorado, ou ainda não descrito na literatura.”

OD: Sarah Jessica, estou tão animada por você estar recomeçando seu selo literário — mais uma vez, em parceria com Molly Stern, mas agora na Zando. Sua conexão com os livros mudou ou se aprofundou de alguma forma durante a era da Covid?

SJP: Nos primeiros dias do que se tornou em essência um confinamento para a maioria de nós, eu consegui ler, embora tenha falado com muitas pessoas que disseram ter sentido tanta ansiedade e medo das incertezas que não conseguiam.

E então me encontrei no mesmo lugar. Acho que, com o tempo, ficou mais difícil manter o foco para se transportar na leitura porque o presente se tornou opressivo e esmagador — ler não era o antídoto com o qual eu poderia contar. Depois encontrei o caminho de volta novamente, e comecei a voar pelos livros, me deixando consumir inteiramente por eles. Fiquei tão feliz e tão aliviada.

Quando comecei a trabalhar de novo, entrei em pânico porque, de primeira, tive dificuldade para ler no set, que é o que normalmente faço. Sempre contei com os livros para me acalmar em meio ao caos de um set; eu sempre teria um livro, não importa onde estivesse. Eu o escondia em uma estante ou em uma bolsa que estivesse carregando como parte do figurino da personagem. Ou em inúmeros lugares em que pudesse ocultá-lo. E tão logo dissessem “corta!”, eu o buscava.

Mas uma vez que eu comecei a relaxar e perceber que eu sabia minhas falas e já tinha cuidado de todos os outros assuntos importantes, consegui voltar [à leitura]. E é neste lugar em que estive por um tempo. Sei que você entende porque você é igual. Mas se perder em um livro, mesmo que você tenha apenas 10 minutos, se deixar levar, para mim, é o maior presente.

OD: Que tipo de livros você vai adquirir para o seu selo?

SJP: Sempre fui atraída por livros sobre territórios inexplorados, lugares ou pessoas — por vozes globais e por experiências desafiadoras que um autor descreve e ilustra e que me permitem tentar entender ao máximo as circunstâncias, culturas, pressões e obstáculos das outras pessoas.

OD: Então é sobre conexão para você?

SJP: Sim, especialmente quando nosso mundo se torna mais dividido, há uma inclinação a não se conectar, em que as pessoas parecem encontrar conforto em suas tribos em vez de tentar se conectar com outras pessoas diferentes. Eu quero me conectar com um mundo mais amplo. E quando entendo as circunstâncias das pessoas de uma forma mais detalhada — por exemplo, uma autora de Lagos que descreve como é a vida lá —, mesmo que seus problemas não sejam os meus ou as circunstâncias, cultura ou religião não sejam as mesmas que as minhas, me sinto muito mais capaz de ouvir e querer o melhor para as pessoas quando tenho a visão de sua comunidade de alguma forma, ou quando posso senti-la, prová-la.

OD: Você está firmando mais uma vez sua parceria com Molly Stern, que fundou a editora independente Zando após ter deixado sua posição na Crown/Hogarth alguns anos atrás. O que mais te deixa animada sobre essa colaboração?

SJP: Quando Molly e eu começamos a conversar sobre o que SJP for Hogarth queria ser, estávamos muito interessadas em vozes globais, mesmo que fossem daqui, cujas perspectivas fossem nitidamente de outro lugar. Na época, esses projetos não eram tão fáceis de trabalhar como são hoje. Desde então, não é incomum ver autores de todas as partes do mundo sendo publicados e encontrando um público amplo.

Conforme iniciamos essa nova empreitada, meu desejo continua sendo encontrar novas vozes da Coréia, ou de Lagos, ou da Irlanda, ou, ou, ou… Isso parecia um pouco mais desafiador há alguns anos. Agora, sinto que podemos encontrar esses leitores, sim. Mas teremos que lutar pela oportunidade de publicar os autores.

OD: Você acaba de anunciar o novo selo e ainda não fez sua primeira aquisição. Qual será o processo de escolher o que publicar?

SJP: Bem, nós apenas começamos a ler os manuscritos, e estamos iniciando da mesma forma que fizemos na primeira vez, qprocurando originais que se encaixem nos seguintes critérios: novas vozes, vozes marginalizadas, vozes globais, e histórias originais, únicas, não familiares. Mas embora haja um lugar para cada livro no mundo, não estou particularmente interessada em comédias românticas ou protagonistas nova iorquinas que vivem no Upper East Side. Estou muito mais intrigada pelo autor que conta algo novo, inexplorado, ou ainda não descrito na literatura.

OD: E a sua abordagem para colocar esses livros no mercado irá mudar?

SJP: Queremos que nossos autores se sintam mais investidos e envolvidos no processo e que saibam que cada aquisição significa muito para nós. Não estamos colecionando um monte de títulos. Procuramos com muito cuidado por uma pequena quantidade de livros para publicar anualmente pelo meu selo. É um investimento pessoal. E, é claro, Molly reuniu editores extraordinários, assim como ela fez quando eu estava na SJP for Hogarth, pessoas interessadas e empolgadas pelo mesmo tipo de narrativa que eu. E entendo que encontrar os livros certos para publicar exigirá paciência. A cada vez que leio um manuscrito, eu penso “por favor, seja esse”, mas não dá para forçar isso em um escritor, e só nos resta ser pacientes e esperar. E, por mais que eu esteja animada para anunciar o primeiro livro, quero que seja uma estreia que realmente represente o que estamos tentando alcançar.

OD: Mudando de assunto por um momento — você esteve tão ocupada! Como o ano passado foi para você, em se tratando da carreira?

SJP: Estamos prestes a estrear na Broadway com “Plaza Suite”. Nossa primeira pré-estreia foi no dia 25/02. Terminei a nova série da HBO, “And Just Like That…” no dia 8 de novembro, às 20h. Fui colocada em uma van e me levaram até Providence, em Rhode Island, onde comecei a filmar “Hocus Pocus” no dia seguinte. Terminei “Hocus Pocus” às 2h da manhã em 26 de janeiro e comecei os ensaios de “Plaza Suite” na manhã de quinta-feira, 27 de janeiro. Tem sido insano, de verdade.

OD: Obviamente, você precisava de mais trabalhos, então decidiu se tornar editora de novo.

SJP: Sim.

OD: Muito obrigada. Foi ótimo me reconectar com você.

SJP: Obrigada a você, Leigh.