Yasmin Ribeiro
Com ambiciosa e inovadora abordagem sobre a temática da Segunda Guerra Mundial, baseado na história da cidade de Rechnitz, o romance DUNKELBLUM, da escritora e jornalista austríaca Eva Menasse, acaba de sair na Alemanha pela Kiepenheuer & Witsch e já disparou para o segundo lugar da lista da revista Der Spiegel, ultrapassando a marca de 25 mil exemplares vendidos. Eva Menasse é considerada uma das mais importantes autoras contemporâneas da Alemanha e é também grande vendedora de livros, batendo a casa de 500 mil exemplares em territórios de língua alemã. Direitos de tradução de DUNKELBLUM foram adquiridos por editoras importantes como Bompiani, na Itália; Atlas Contact, na Holanda; e Scribe, que adquiriu direitos mundiais de língua inglesa. Na França, o romance sairá pela Éditions Stock, integrando a prestigiosa série Cosmopolite junto a nomes como Isaac Singer, James Baldwin e Rachel Kushner, entre outros.
Considerado um dos livros mais importantes dessa temporada e elogiado pelos principais veículos de comunicação alemães, o romance se passa em 1989, na fictícia Dunkelblum, uma pequena cidade na fronteira entre a Áustria e a Hungria aparentemente inofensiva, mas cuja população permanece sob a influência de um ex-oficial nazista. Há décadas, os “cidadãos de bem” de Dunkelblum conservam uma cultura de omissão absoluta a respeito dos crimes cometidos durante o III Reich. Entretanto, com a chegada de um visitante inesperado, os moradores são confrontados por eventos que ameaçam trazer à tona os segredos sombrios encobertos pela memória distorcida.
Em DUNKELBLUM, Menasse explora a dissonância cognitiva de uma população inteira que vive num entorpecimento deliberado, alheia às atrocidades que mancham a história de todo o país — uma sátira nada comedida ao passado político da Áustria. A linguagem é a chave da autora para a mente dos protagonistas. O dialeto falado em Dunkelblum contém todos os traços — autopiedade, covardia, arrogância, sadismo, brutalidade, medo e, principalmente, apatia — que explicam como os habitantes dessa cidade puderam normalizar os horrores do próprio passado. Esses traços vão além do discurso dos personagens e integram também o tom narrativo do romance. Menasse usa Dunkelblum para denunciar não só um caso histórico individual, mas a habilidade humana universal de ignorar ou até consentir com a crueldade para manter as aparências.
Na resenha publicada em “Die Zeit”, um dos mais importantes jornais da Alemanha, sob o título “O horror no mais belo dialeto”, o crítico Ijoma Mangold definiu o romance como “genial” e um “êxtase linguístico empolgante”. Com a ferramenta da linguagem e sua voz narrativa original, Eva Menasse cria uma atmosfera inteiramente nova com elementos literários já conhecidos. Como romance, DUNKELBLUM é ao mesmo tempo uma sofisticada experiência literária e um thriller de altíssima qualidade sobre as feridas na alma de um povo que, ao contrário das memórias, jamais se dissipam.