O FASCÍNIO LITERÁRIO DE MARILYN

Do orfanato à galeria de mitos do século XX, a história de alta voltagem emocional de Norma Jeane Baker, mais conhecida como Marilyn Monroe, está sendo escrita como romance biográfico, com foco na infância e juventude como chaves explicativas de sua vida trágica, pelas escritoras alemãs, gêmeas Nadja e Claudia Beinert. Nesta entrevista concedida a seus editores na Aufbau, que VB&M teve autorização de reproduzir, Claudia, que passou da administração e consultoria financeiras à carreira de romancista histórica, vivendo e escrevendo de Leipzig, e Nadja, que há vários anos trabalha na indústria cinematográfica alemã, morando em Erfurt, explicam o fascínio exercido por Marilyn Monroe, que acabou por enfeitiçá-las também, e revelam o processo de escrita em parceria que aplicam para a construção de seus romances. MARILYN E AS ESTRELAS DE HOLLYWOOD (título provisório) comporá a coleção de Grandes Mulheres da Aufbau, um dos grandes sucessos da editora, alguns dos livros já publicados ou prestes a sair no Brasil pela Tordesilhas (entre estes, MADEMOISELLE CHANEL E O CHEIRO DO AMOR; FRIDA KAHLO E AS CORES DA VIDA; para breve o romance sobre SIMONE DE BEAUVOIR). O lançamento de MARILYN na Alemanha está marcado só para abril de 2022, mas os direitos de tradução italianos já foram arrebatados pela Giunti em “preempt” (quando uma oferta é tão boa que tira o livro da mesa de negociações e leilões).

AUFBAU: Por quais caminhos vocês chegaram a Marilyn Monroe como protagonista desse novo romance?

CB: A ideia de Marilyn me veio depois de assistir ao clássico preto e branco “Laura”, de 1944. No filme, Laura é uma protagonista muito determinada e emancipada para sua época. Ela me inspirou a olhar para as mulheres fortes e únicas da indústria do cinema e ver além das cenas daquele mundo de purpurina. Rapidamente, me descobri enfeitiçada pelo ícone de Hollywood por excelência: Marilyn Monroe.

NB: Enquanto pesquisávamos sua infância triste, comovente adolescência e seu primeiro casamento, nos estarrecíamos com o pouco que a pequena, jovem Marilyn (nome verdadeiro: Norma Jeane Baker) tinha a ver com sua versão mais velha e famosa. Nos determinamos a escrever sobre isso – compartilhar essa história extraordinária com nossos leitores e leitoras.

AUFBAU: O que na jovem Marilyn Monroe as fascinou? Por que contar especialmente seus primeiros anos e juventude?

NB: A maioria das pessoas conhece Marilyn Monroe, o ícone. Mas quase ninguém sabe algo sobre Norma Jeane Baker e como ela se tornou Marilyn. Ela foi uma criança de orfanato, que não conheceu o pai e cuja mãe passou longas temporadas em clínicas para doentes mentais. Por isso, ela sempre ansiou por uma família, por afeição e atenção. Marilyn escolheu Monroe como nome artístico por causa do avô dela. Elmar Monroe era um simples pintor de paredes, mas sonhava com uma grande carreira de artista plástico.

CB: A jovem Norma Jeane não se achava bonita de maneira alguma, era tímida e gaguejava quando tinha de falar para muitas pessoas. Além disso, largou a escola aos 16 anos para se tornar uma esposa dedicada. Como uma menina assim conseguiu se transformar na mulher emancipada que, pela carreira de atriz, conquistou as estrelas do céu, é o que queremos contar em nosso romance.

NB: Marilyn sempre lamentou que ninguém quisesse descobrir quem ela era de fato. Nós fizemos juntamente isso, e a chave está na infância e juventude dela, no primeiro casamento com o trabalhador horista Jim Dougherty. À medida que escrevíamos, parecia que Norma Jeane estava por de trás de nossos ombros nos incentivando com sua voz alta e terna a contar a história dela.

AUFBAU: O que faz Hollywood das décadas de 40 e 50 tão especial para vocês?

NB: Em sua época de ouro, Hollywood era revolucionária em termos de tecnologia e dramaturgia de cinema, ainda mais glamurosa do que hoje, e os filmes se provavam incrivelmente populares. Reverenciavam-se as estrelas de cinema como santos e elas eram modelos para muita gente. Numa época em que a televisão ainda não estava disseminada e o teatro era para uma elite, o cinema se tornou a mídia mais popular de se contar uma história. Todo mundo tinha dinheiro para ir ao cinema uma vez por semana.

CB: Ao contrário de hoje, as estreias de filmes eram então imensos eventos sociais. Quando o sucesso do século “E o vento levou” foi exibido pela primeira vez em 1939, 1 milhão de pessoas celebraram em Atlanta. Naquele tempo, Hollywood era a encarnação do sonho americano, pelo qual as pessoas ansiavam cada vez mais, especialmente durante a grande crise econômica da década de 30, a Grande Depressão. Vários diretores de estúdio haviam sido imigrantes pobres; muitas atrizes não tinham qualquer experiência de palco. Tudo parecia possível naquela era de ouro da indústria do cinema. A maior prova disso é Norma Jeane Baker.

AUFBAU: Cada uma de vocês tem sua gêmea como parceira – como acontecem os romances?

CB: Quando sugeri a minha irmã Marilyn Monroe como nosso novo projeto de romance, ela imediatamente se entusiasmou e ofereceu uma porção de ideias para a implementação. O fato de Nadja trabalhar na indústria do cinema tem sido útil para nós no processo da escrita. Assim, logo nos sentamos para pesquisar nos detalhes a vida e a época de Norma Jeane e, com base na pesquisa, esboçamos uma estrutura da trama do romance. Como em todos os nossos livros, tivemos discussões, fomos e voltamos, até idealizamos cenas para lá e para cá a fim de ver se funcionavam.

NB: A estrutura da trama passou a guiar a Claudia através de todos os capítulos. Ela faz uma primeira versão do manuscrito, que eu então otimizo. Depois disso, o documento volta para Claudia. Isso segue assim para lá e para cá até cada capítulo ficar maduro. Aí começará nossa excitação para ver se os leitores abraçarão Marilyn em seus corações.