O NOVO ABOLICIONISMO

Yasmin Ribeiro

Muito antes dos protestos contra o brutal assassinato de George Floyd, Breonna Taylor e outras tantas vítimas da violência policial americana, a pauta do abolicionismo penal já vinha sendo discutida com urgência Lá Fora – e no Brasil também –, conquistando espaço na mídia. Em BECOMING ABOLITIONISTS: POLICE, PROTESTS AND THE PURSUIT OF FREEDOM, a sair em outubro nos EUA pela Astra House, a advogada e ativista Derecka Purnell, uma das maiores autoridades no movimento abolicionista americano, com uma plataforma de mais de 76 mil seguidores, expõe sua própria jornada de educação política e transformação pessoal, em um misto de manifesto, ensaio crítico e memórias.

O livro foi escrito a partir do artigo “How I Became a Police Abolitionist”, publicado na Atlantic, que viralizou durante os protestos do movimento Black Lives Matter em 2020, impulsionando um longo e necessário ajuste de contas com o problema da violência policial. No texto, Purnell constata que, “quando as pessoas criticam os abolicionistas por não se preocuparem com as vítimas ou com a segurança, elas tendem a esquecer que nós somos essas vítimas, esses sobreviventes da violência”.

Em BECOMING ABOLITIONISTS, Purnell argumenta que reformas não são suficientes para impedir a violência policial – como a Lei George Floyd não teria evitado sua morte, conforme diz Purnell em sua coluna no Guardian – e convida o leitor a pensar um mundo sem prisões e polícia, no qual as necessidades coletivas da sociedade prevaleçam sobre o lucro e a punição. Estruturado em capítulos que analisam ressalvas comuns acerca da abolição, como o destino dado a assassinos e estupradores e a preocupação com a segurança, o livro tira o foco da opressão policial e enfatiza a busca por novos sistemas que possam ir de encontro às raízes do mal.

Em vez de considerar o abolicionismo penal como apenas a eliminação da polícia, Purnell o entende como um apelo para criar e apoiar soluções diferentes para a violência na sociedade e até mesmo como uma oportunidade para reduzir e eliminá-la de vez. Ela apresenta o pensamento abolicionista ao narrar seu próprio caminho como ativista no movimento que é não apenas anti-racista, mas também anti-capitalista e anti-colonialista.