Andrea Nunes, autora de A CORTE INFILTRADA (Buzz), está lendo “Lavoura Arcaica”, de Raduan Nassar (Companhia das Letras). Para Andrea, “um livro a ser degustado em pequenos goles, complexo e fascinante em todas as nuances”.
*
Quando estou terminando de escrever um romance, recorro à leitura dos clássicos para manter a qualidade do meu texto. A edição esgotada de Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar lançado pela Companhia das Letras em 1989, caiu no meu colo justamente neste momento. Sempre tive curiosidade de conhecer a obra do Raduan e fiquei impressionada com a personalidade da narrativa. Não é um autor que se possa enquadrar em qualquer estilo que eu conheça, sua linguagem é completamente única, lírica, fronteiriça entre prosa e poesia, desta última se destacando inclusive a musicalidade e o ritmo do texto.
A história também me chamou a atenção porque tem uma correlação às avessas com a parábola do filho pródigo, dando mote à exploração das relações de poder e autoritarismo, a família como um microcosmo do mundo, e a história se desenrolando na tensão dialética entre tradições rígidas e ímpetos de liberdade. Perceber que o livro abusa das sutilezas em diversos níveis e modos de linguagem me faz imaginar que traga também uma metáfora relativa ao ambiente político de quando a história foi escrita, em plena década de 70 de um Brasil mergulhado na ditadura militar. Lavoura Arcaica tem a atemporalidade dos clássicos e é um livro para ser degustado em pequenos goles, complexo e fascinante em todas as nuances.
