A essência do humano não se altera, por isso os grandes livros sempre têm o que nos dizer. Um diário do ano da peste, de Daniel Defoe (tradução de Eduardo San Martin, Artes e Ofícios), é uma reportagem histórica com pegada de romance, e mostra o descaso a que foi relegada a população de Londres, principalmente a mais pobre, durante a peste de 1665. As pessoas que não tinham para onde ir ficaram presas em casa e na cidade, e este isolamento serviu como uma estratégia de governo para que elas morressem ali e não propagassem a doença. Publicado em 1772, o livro revela a crueldade de um grupo dominante que se protege exterminando o povo desinformado. Qualquer semelhança com o que acontece agora no Brasil de hoje não é coincidência, é história.
Miguel Sanches Neto é romancista, contista, poeta e memorialista. Escreveu A BÍBLIA DO CHE (Companhia das Letras) e UM AMOR ANARQUISTA (Record), entre duas dezenas de títulos.
