O ROMANCE NEGRO NAS LACUNAS DO PASSADO

Yasmin Ribeiro

A sair em julho nos EUA pela Little, Brown e, na Grã-Bretanha, pela Tinder Press, THE SWEETNESS OF WATER (A doçura da água) marcará a estreia de um jovem escritor, Nathan Harris, pronto para consolidar seu lugar de destaque na literatura negra americana contemporânea. Nessa narrativa, Harris pegou o pouco que conseguira descobrir sobre a história de seus antepassados escravos para construir um romance que trata da trajetória comum de milhões de famílias afrodescendentes nos EUA.

“Todos os escritores negros são levados a preencher o passado”, disse Harris numa entrevista à Publishers Weekly, ainda a bíblia do mercado editorial americano. O pai dele, contou Harris, já havia se dedicado a pesquisar as origens de sua família, mas não fizera grandes avanços. Na falta de registros e documentos, ele usou a imaginação e a ficção para recontar a trajetória de seus ancestrais pela história de dois irmãos, Prentiss e Landry, escravos libertos na Georgia pela Proclamação de Emancipação de 1863 e que passam a trabalhar na fazenda de um casal cujo filho único morrera na Guerra Civil. Uma subtrama paralela descreve o amor proibido entre dois soldados confederados e a luta para esconder o relacionamento deles da comunidade local.

O romance, que VB&M representa para o Brasil em nome da agência Brandt & Hochman, foi adquirido pela Little, Brown and Co. em preempt (jargão que refere a uma proposta editorial boa a ponto de retirar o livro do mercado e da mesa de negociações, abortando a tentativa de leilão do título). O autor, que começou a escrever enquanto ainda estudante universitário, disse que sempre pensou em criar uma história para um grande livro: “Fui influenciado por narrativas clássicas e épicas. […] Então, uma manhã, sentei-me e experimentei.”

Com a elegância da narrativa de Harris revelada em THE SWEETNESS OF WATER, seu profundo entendimento da alma humana e a força do resgate histórico do próprio passado, seu romance de estreia já nasce clássico. Em um dos inúmeros elogios ao livro oferecidos por seus pares escritores, o consagrado Richard Russo comentou o talento do estreante: “Com THE SWEETNESS OF WATER, Harris conseguiu, de alguma forma, desfazer ‘E o vento levou’, implodindo seu romantismo cafona e seu deplorável racismo.”