QUANDO A ARTE DÁ LIGA AO AMOR

Carro-chefe da nova série da editora Aufbau de romances sobre grandes histórias de amor no mundo da arte e do pensamento, GALA & DALÍ: OS INSEPARÁVEIS, de Sylvia Frank, foi lançado na Alemanha na semana passada numa primeira tiragem de 25 mil exemplares, comprovando a dimensão da aposta da editora. Com o pano de fundo do movimento surrealista no século XX, o romance retrata o amor avassalador entre Salvador Dalí, então jovem pintor espanhol no início de sua carreira, e Gala Éluard, ex-esposa do poeta francês Paul Éluard, dez anos mais velha do que o mestre da pintura. Nesta CONVERSA COM (A) GENTE, Yasmin Ribeiro traduziu a entrevista com o casal de escritores alemães por trás do pseudônimo que assina o romance, Sylvia Vandermeer e Frank Meierewert; o casal descreve o processo de pesquisa e criação da narrativa e a própria relação amorosa deles entre si, com os personagens e com o campo da arte.

AUFBAU: O que tem de tão único na história do amor entre Gala e Salvador Dalí?

SV & FM: Sobre Gala, Salvador disse: “Ela se tornou o sal da minha vida, meu farol, meu duplo.” Ele a retratou em inúmeras pinturas e se inspirou nela durante toda a sua vida. Eram únicas a incondicionalidade e paixão com que eles viveram seu amor — que não era livre de tensões, mas permeava o trabalho artístico de Salvador e seu cotidiano. Ela era sua musa, sua amante, sua empresária. O relacionamento era tão exclusivo e intenso que eles se reconheciam a si mesmos no outro e não conseguiam viver um sem o outro.

AUFBAU: Como vieram a conhecer a história de Gala e Dalí e o que despertou o interesse de vocês?

SV & FM: Em 2004, visitamos a exposição “MoMA em Berlim” na Neue Nationalgalerie. Vimos a obra “A persistência da memória” pela primeira vez. Conhecíamos a pintura por meio de reproduções e ficamos surpresos com o quão pequena a tela é, não muito maior que um cartão-postal. Naquele momento, nosso interesse foi despertado. Começamos a pesquisar quando e como a pintura foi feita e como foi parar em Nova York. Nesse processo, nos deparamos com o início da carreira artística de Dalí — e com Gala, é claro. O exemplo desse casal, que superou todas as dificuldades em um tempo de revoluções sociais, nos deu coragem para seguir nosso próprio caminho como casal de artistas, primeiro Sylvia como pintora e Frank como seu galerista e curador, e depois nós dois juntos como escritores.

AUFBAU: Como vocês tiveram a ideia de uma recriação literária de Gala e Dalí?

SV & FM: Tendo vivido e trabalhado juntos como casal por mais de 30 anos, temos curiosidade a respeito de pessoas que trilharam caminhos parecidos. Foi assim que descobrimos a história de Gala e Dalí. Estávamos particularmente interessados na época em que Salvador firmou sua carreira como artista. Nós nos reconhecemos na figura do casal, uma vez que os dois tiveram de superar imensos obstáculos e dificuldades juntos, mas sempre venceram e amadureceram com as experiências. Por isso foi um desafio especial para nós nos aproximarmos de ambos e explorar o que pode ter acontecido em suas vidas interiores.

AUFBAU: O romance é narrado a partir das perspectivas de Gala e Salvador. Como foi o processo de escrita do livro? Vocês escreveram tudo juntos ou cada um se identificou mais com um dos personagens?

SV & FM: Os personagens que escrevemos se sentam à mesa conosco. Nós acordamos com eles e vamos dormir com eles à noite. Discutimos bastante sobre o casal: por que Gala se comportou daquela forma, e como Salvador reagiu? É claro que cada um de nós criou nossos próprios Gala e Salvador, mas é assim que os personagens ganham vida. Isso se reflete no processo de escrita. Desenvolvemos juntos a história e escrevemos e corrigimos o texto um do outro. Pode-se dizer que, quando escrevemos um livro, é como se tocássemos um piano a quatro mãos.

AUFBAU: Como vocês abordaram o assunto? Onde e por quanto tempo vocês fizeram a pesquisa para o romance?

SV & FM: Quando tivemos a ideia de escrever um romance sobre Gala e Dalí, não tínhamos ideia do quão difícil seria ter de lidar com os dados biográficos. A pesquisa no local e na documentação e literatura disponíveis consumiu uma imensa quantidade de tempo. Tivemos que abrir uma trilha na selva de Dalí e fomos forçados mais de uma vez a escolher uma verdade entre muitas coloridas variações nas biografias e textos.

AUFBAU: Qual é o público-alvo do seu romance? Quem primordialmente deveria lê-lo?

SV & FM: GALA E DALÍ é para todos que gostam de histórias bem contadas com pano de fundo biográfico. No processo, para aqueles familiarizados com a vida e a obra de Salvador Dalí, o livro pode conter uma ou duas surpresas; para os outros, é uma grande e emocionante história de amor que, no mínimo, irá ressoar profundamente nos leitores.