Yasmin Ribeiro
Tão empolgante quanto um thriller de Dan Brown ou Umberto Eco, O PADRE E O FILÓSOFO, do escritor belga Toon Horsten, é uma narrativa sobre a história real do salvamento da obra de Edmund Husserl, um dos mais importantes nomes da filosofia do século XX, por um jovem padre franciscano durante a Segunda Guerra Mundial. Publicado originalmente em 2018 e muito premiado na Holanda, o livro foi lançado na Alemanha em março deste ano pela Kiepenheuer & Witsch, que agora controla os direitos da obra. Vendido para tradução na Espanha (Cielo Electrico), onde sairá em breve, e no Japão (Sayusha), O PADRE E O FILÓSOFO vem merecendo a mais calorosa recepção da crítica e do público e logo será adaptado para cinema.
Enquanto pesquisava sobre o passado de sua família, Toon Horsten deparou-se com a impressionante trajetória de vida do padre Herman Leo Van Breda, seu tio-avô, que vivera no norte da Bélgica. O escritor se dedicou então a reconstruir meticulosamente a saga do tio-avô para impedir a destruição do legado filosófico de Edmund Husserl.
Fundador da fenomenologia, método que marcou a história da filosofia no século XX, Edmund Husserl foi também mentor do controvertido pensador do nazismo Martin Heidegger. Quando Husserl morreu em 1938, Heidegger, que na época atuava como reitor da Universidade de Friburgo, já abandonara, sabotara e traíra seu mestre de origem judaica para se aliar ao regime de Adolf Hitler. A viúva Malvine Husserl estava para ser deportada para um dos campos de concentração que começavam a surgir, e as milhares de páginas que representavam todo o legado do grande filósofo da fenomenologia corriam o risco de ser destruídas.
Com a intenção de publicar um volume da obra de Husserl, o padre Herman Leo foi a Friburgo em busca de material e, lá chegando, percebeu que todo o arquivo da fenomenologia estava condenado à destruição. Apesar dos perigos da guerra, fez tudo o que pôde para salvar o tesouro filosófico da história intelectual europeia e também para criar para Malvine uma oportunidade de escapar do horror nazista. Após diversas tentativas, Van Breda conseguiu levar os escritos de Husserl em segurança até a Bélgica, onde fundou o Centro de Pesquisa da Fenomenologia.
Numa primeira leitura, O PADRE E O FILÓSOFO oferece uma narrativa eletrizante sobre contrabando de manuscritos tendo como pano de fundo a perseguição dos judeus antes e durante a Segunda Guerra Mundial, mas o livro se desdobra indiretamente numa história da filosofia europeia no século XX. Além de Husserl e Heidegger, a narrativa inclui quase todos os grandes filósofos da Europa: Emmanuel Levinas, Jacques Derrida, Maurice Merleau-Ponty, Paul Ricoeur, Roman Ingarden, Edith Stein, Jean-Paul Sartre e muitos outros. Segundo o periódico alemão “Philosophie Magazin”, O PADRE E O FILÓSOFO é um thriller fascinante sobre a história da filosofia que mostra que não apenas a fé mas também a paixão pode mover montanhas.
