WAGNER BARREIRA LÊ RACHEL CUSK

Autor de DEMERARA (Instante), Wagner Barreira traz suas impressões da leitura de “Esboço” (Todavia), primeiro volume da trilogia de romances de Rachel Cusk. Para ele, “Os pequenos relatos de Cusk revelam que as histórias estão aí, do nosso lado, sempre”.

Para alguns críticos, a inglesa Rachel Cusk “reinventou” o romance, esse gênero que vem sendo reinventado desde o livro seguinte à publicação de Dom Quixote. Mas a força e a estranheza que brotam em “Esboço” (Todavia, 2021), o primeiro da trilogia que inclui “Trânsito” e “Kudos”, este ainda inédito por aqui, parecem vir de uma fórmula simples: Faye, o alter ego de Cusk, ouve histórias e as reconta. E essas histórias vêm de vozes muito diferentes. Um ex-playboy grego decadente que encontra no avião, alunos de seu curso de escrita criativa, uma escritora lésbica – personagens que se relacionam com Faye durante sua curta estada em Atenas. Esses relatos, simples em aparência, são tão humanos que por vezes incomodam, como nesse trecho: “A música trai segredos; é mais traiçoeira ainda do que os sonhos, que pelo menos têm a virtude de serem privados.” Os pequenos relatos de Cusk revelam que as histórias estão aí, do nosso lado, sempre. Só pelo alerta já vale a leitura.