DESBRAVADORAS, REBELDES E PIONEIRAS

Yasmin Ribeiro

Sai Fora em março de 2021 um livro que dará novo sentido à história da participação feminina na pesquisa geográfica, etnográfica e biológica. Lançamento da Sourcebooks nos EUA, THE GIRL EXPLORERS: The Untold Story of the Globetrotting Women Who Trekked, Flew, and Fought Their Way Around the World (que poderia ser traduzido como “As desbravadoras” ou “As pesquisadoras” – “a história não contada das viajantes que escalaram, sobrevoaram e abriram na marra seus caminhos mundo afora”, em tradução livre), da advogada Jayne Zanglein, tem como proposta ressignificar a relação das mulheres com a ciência no século XX.

Zanglein reúne pela primeira vez as trajetórias de cientistas e pesquisadoras, que, proibidas de afiliar-se ao exclusivamente masculino Clube dos Exploradores, fundaram a Sociedade de Mulheres Geógrafas em 1925. A Sociedade começou com quatro mulheres somente: a pesquisadora Marguerite Johnson, a romancista Blair Niles, a geógrafa Gertrude Shelby e a editora Gertrude Emerson, todas excluídas do Clube dos Exploradores. O presidente da associação, Roy Chapman Andrews, acreditava que a ciência não era um ambiente próprio para o sexo feminino, como viria a declarar às alunas do Barnard College em 1932.

Ainda em 1932, a Sociedade de Mulheres Geógrafas, já contando com várias afiliadas que refutavam na prática o discurso misógino de Andrews, realizou seu primeiro jantar oficial. Andrews foi devidamente convidado, mas recusou-se a comparecer ao evento promovido por grandes exploradoras, como a aviadora Amelia Earhart, que, naquele mesmo ano, sobrevoara sozinha o Oceano Atlântico, primeira mulher a realizar esse feito. Ao longo dos tempos, além de Amelia Earhart, a Sociedade das Mulheres Geógrafas contou com a participação de outras pesquisadoras notáveis como a antropóloga Margaret Mead e a primatologista Jane Goodall, entre cientistas, exploradoras, antropólogas, escritoras, aviadoras e artistas, que abriram as portas da ciência e do mundo para o sexo feminino.

A Sociedade foi fundamental para consolidar a participação feminina na ciência, na academia e em todos os lugares onde o ingresso da mulher era negado até menos de 100 anos atrás. Jayne Zanglein recupera a história dessas intrépidas cientistas que desbravaram o mundo em busca de novas espécies, que revelaram os segredos de muitas culturas e quebraram inúmeros recordes. Porque tinham coragem de ir aonde nenhuma mulher – ou homem – tinha antes ousado chegar, destruindo barreiras e muralhas de preconceito e ignorância em benefício das gerações futuras.