O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO, LUIZ BIAJONI?

Estou lendo “Raymond Chandler – Uma Vida” (Benvirá, 2014), de Tom Williams. Tenho curiosidade de saber como alguns autores se encaminham para determinados gêneros; tinha lido em algum lugar que Chandler era um sujeito muito culto e de grandes pretensões literárias – então, por que foi escrever pulps? Eu me perguntava. E uma boa biografia oferece (ou, pelo menos, aponta) respostas interessantes.

A desilusão causada pelo impacto da crise de 1929 e os escândalos de corrupção em todos os níveis dos governos, assim como a paranoia anticomunista e o crescimento dos sindicatos e da máfia, criavam um clima sinistro e propício para histórias de crimes, vingança e traição – temas básicos e universais da literatura. Havia também, vejam vocês, uma intensa máquina de fake news em Hollywood – Irving Thalberg (MGM) e o grupo Hearst produziram uma série de documentários e reportagens falsas para eleger governadores e representantes conservadores contra candidatos com “ideologia comunista” – é mole? Parece hoje, não? Bem, naquela época havia uma névoa de mentira e desespero no ar. Talvez hoje também haja.

Assim, quando aquele sujeito sensível, que todo mundo chamava de Ray, depois de perder o ótimo emprego numa empresa de petróleo por causa do alcoolismo e de casar com uma divorciada dezoito anos mais velha, botou a bunda na cadeira para escrever alguma coisa, foi só porrada e desilusão. Depois, os temas até foram abrandando, Ray passou a se sentir mais seguro e até feliz (pero no mucho), e acabou instilando alguma gentileza a sua grande criação, o detetive Philip Marlowe.

Sei que Chandler foi parar no cinema, mas ainda não cheguei nessa parte. Adoro biografias. E autobiografias. Acabei de ler a do Neil Young (que está mais para um livro de memórias) e estou começando “Coragem” (Harper Collins Brasil, 2018), da Rose McGowan, sobre o início do movimento #metoo.

Luiz Biajoni é autor de ELVIS E MADONA e A COMÉDIA MUNDANA, entre outros títulos.