Em novembro de 2016, o escritor best seller e editor Anderson Cavalcante criou a Buzz, que inicialmente deveria se chamar Metáfora, mas graças a um brinquedo de seu filho, um boneco do Buzz Lightyear, encontrou seu verdadeiro nome antes do primeiro lançamento. “Ainda bem”, diz o autor do mega seller “O que realmente importa”, quando discorre sobre o tamanho do desafio que é, para qualquer empresa, encontrar seu nome certo. No seu quinto aniversário, a Buzz, se não mais uma start up ainda uma jovem editora, rapidamente amadurecida pela travessia da Covid-19, já é uma das mais bem sucedidas casas editoriais do mercado brasileiro e se expande inexoravelmente para outros segmentos além da Autoajuda, sua marca de origem, sobretudo depois de outro mega seller, o “Seja Foda!”, de Caio Carneiro. Com mais de 27 anos de carreira no mercado editorial e formação em Administração de Empresas e Marketing, especializado em Psicologia Aplicada a Negócios, com histórico ainda de ter revelado para o Brasil autores que vão de James Patterson a Padre Fábio de Melo, o dublê de autor e editor, além de grande empresário, Conversa Com (A) Gente sobre sua visão do negócio editorial, a receita de sucesso para livros de Autoajuda e Negócios e seus planos para os próximos cinco anos da Buzz.
VB&M: Festejando o quinto aniversário da Buzz, que assim já está longe de uma startup, qual o balanço que temos dessa travessia?
AC: Assim como em um bom roteiro, nosso balanço tem muita emoção, aventura e uma boa dose de superação. Se estivéssemos próximos do fim da jornada, eu diria que teríamos um belo final feliz. Ainda bem que estamos só começando, e a cada dia surge a possibilidade de um recomeço nesta nossa travessia.
Nascemos com o objetivo de inovar por meio de livros com textos profundos e gostosos de ler; porém, em um momento em que o mercado editorial estava enfrentando uma crise, e mal sabíamos nós que as coisas ainda iriam piorar, com as principais redes de livrarias entrando em recuperação judicial; logo depois veio a pandemia. Mas como nascemos com um time jovem, competente e altamente engajado, criamos um modelo de negócio diferenciado, no qual unimos a qualidade dos textos, modernos e dinâmicos, a projetos gráficos criativos e diferenciados, sempre abusando de cores e acabamentos sofisticados que foram muito bem recebidos pelos nossos leitores. Um dos nossos maiores compromissos é manter o preço dos nossos livros acessível ao leitor. Isso sem falar da busca permanente por obras e temas que tenham ineditismo e contribuam de forma significativa para o repertório de quem lê a Buzz.
Junto a isso, além de uma distribuição agressiva no âmbito nacional, lançamos estratégias de vendas digitais e por meio de eventos onde reunimos públicos específicos para divulgarmos nossas obras.
Essas estratégias foram reconhecidas por nossos leitores, que nos propiciaram diversas conquistas, entre elas a de sermos a editora que lançou o “Seja Foda”, do Caio Carneiro, o livro mais vendido por dois anos consecutivos, além de dezenas de outros best-sellers que estiveram presentes nas listas anuais do Brasil. Desde o nosso primeiro ano, 2016, somos a editora com a maior venda per capita do Brasil, segundo a Nielsen, e estamos ranqueados entre as maiores editoras. Em 2020, mesmo com a pandemia, fomos a editora número 1 (com mais títulos) na lista de mais vendidos de Autoajuda do PublishNews. No ano passado, quando todos tivemos de ter muita resiliência, conseguimos atingir a marca de um livro impresso/e-book vendido a cada quatro segundos. Detalhe importante: nós lançamos, no máximo, dois títulos por mês. Acredito que a edição e o cuidado com cada detalhe dos nossos lançamentos façam a diferença.
Todas essas conquistas representam para nós o reconhecimento dos nossos leitores, que, pelo que nossa inteligência de mercado constatou, estavam em busca de conteúdos relevantes e gostosos de ler, o que nos mostrou que estamos fazendo a travessia na direção certa.
VB&M: Como você chegou ao nome Buzz para a editora?
AC: O nome de qualquer empresa é sempre um enorme desafio. Porque precisa criar uma identificação com seu público, ter significado e sonoridade, ser moderno e ainda comercial. Queria um nome curto e de preferência brasileiro. Fiz seis rodadas de listas de nomes, que enviava para o nosso Jurídico verificar se estavam disponíveis para registro; a resposta sempre era negativa. Fiquei até meio desesperado nessa busca, porque a editora estava nascendo com títulos prontos para serem lançados e ainda não tinha nome. Foi quando, brincando com meu filho no chão do quarto dele, me vejo anotando os nomes de todos os personagens e brinquedos. Logo me deparei com o Buzz Lightyear. Quando fui pesquisar, notei que a palavra Buzz estava crescendo no mundo como algo que significava barulho, comentários, algo quente, sobre o qual está todo mundo falando. Não tive dúvida, daí nasceu o nome Buzz Editora. Até a frase do personagem é boa: “ao infinito e além”. Mas o nosso slogan ficou: Não é você que vira a página, é a página que vira você. Mas a verdade é que Buzz nasceu com o nome Metáfora, a primeira razão social foi essa. Ainda bem que até publicar o primeiro livro, eu já havia achado Buzz, e o lançamento foi com marca certa na capa.
VB&M: Comparando a cabeça do editor-empresário Anderson Cavalcante em 2016 e nos dias de hoje (considerando a passagem do tsunami pandêmico), o que mudou essencialmente?
AC: Para o editor, veio a necessidade de encontrar obras com temas mais significativos para os leitores. Alguns temas acabaram ficando obsoletos durante a pandemia, que fez muita gente aprender a dar valor ao que realmente importa. Tenho a sensação de que, antes da pandemia, as pessoas muitas vezes procuravam novas leituras no piloto automático e acabavam encontrando livros que eram mais do mesmo. Agora a régua subiu, e tenho a sensação de que as pessoas querem mais da vida, querem livros que sejam realmente capazes de entregar a promessa feita na capa. Acredito que temas que remetem à vaidade, ao ego, à “história do autor”, vão perder cada vez mais força. Já temas como espiritualidade, relacionamentos e justa medida vão crescer.
Para o empresário, veio a necessidade de priorizar a saúde e a segurança de todos, ficamos 18 meses totalmente em home office. Rapidamente nos adaptamos e foi um período de grande aprendizado. Ficar distante da equipe e dos nossos clientes foi um desafio complicado, mas necessário para nós, que gostamos muito de estar junto das pessoas, e nos fez descobrir talentos e habilidades que nem imaginávamos que tínhamos. Mudou que agora, mais do que nunca, sabemos que a Buzz é construída todos os dias pelo nosso time e que não importa se estão no nosso escritório na Avenida Paulista, em home office ou em uma reunião com um cliente. Independentemente de onde estiverem, cada um dos membros do nosso time estará escrevendo nossa história e, desse modo, as nossas obras continuarão fazendo a diferença na vida dos nossos leitores, e a Buzz, portanto, continuará crescendo.
VB&M: Não estaria na hora de lançar um novo livro de sua autoria? Você consegue abrir tempo para a escrita?
AC: Sim, costumo dizer que meu corpo está literalmente pipocando de vontade de escrever. Tenho um roteiro pronto, que escrevi no ano passado, mas ainda não consegui mergulhar na escrita. Como escrevo à moda antiga, com caderno e caneta, estou planejando pegar as madrugadas de dezembro para escrever. Afinal, o silêncio da madrugada é muito inspirador para o meu processo criativo.
VB&M: Qual o plano para os próximos cinco anos da Buzz?
AC: Se tivermos juízo, continuaremos com essa estratégia de editora butique e vamos lançar no máximo dois livros por mês. Serão títulos cujo texto nós sejamos capazes de refinar, de pensar para eles um projeto gráfico diferenciado e uma campanha de marketing inovadora, a fim de que o leitor tenha uma experiência única. Não pretendemos ser a maior editora do Brasil, e sim a mais amada. A que mais contribui, impacta e transforma a vida dos seus leitores. Vamos investir cada vez mais em autores estrangeiros que tenham essa capacidade de provocar a expansão da visão de mundo e das percepções dos brasileiros e continuar buscando e desenvolvendo autores nacionais que desejem levar sua mensagem para o mundo. Minha tese é a de que os livros são sementes em busca de almas nas quais possam germinar. Nosso papel é encontrar e distribuir essas sementes neste mundo de meu Deus.
VB&M: A decisão de contratar para publicação livros excelentes e elogiadíssimos pela crítica internacional – como LUZ NA ESCURIDÃO, do físico alemão Heino Falcke, conhecimento de ponta sobre os buracos negros, e muito recentemente THE MYTH OF CAPITALISM, de Jonathan Tepper e Denise Hearn, sobre como o sistema econômico mata a concorrência; portanto ampliando muito o escopo das áreas de Negócios e Autoajuda – indica o seu gosto de leitura ou uma reflexão estratégica para a Buzz?
AC: As duas coisas, que afinal se misturam o tempo todo. Temos visto cada vez mais temas interessantes sendo discutidos ao redor do mundo por especialistas capazes de transmitir conhecimentos, gerar debates e promover a reflexão. Por que não dar voz a esses autores e os trazer para o Brasil por intermédio da VB&M e proporcionar aos nossos leitores a possibilidade de ampliar suas perspectivas e repertório bebendo direto da fonte? A ideia é sermos uma editora que lança moda e provoca o tempo todo o livre pensar.
VB&M: Você lê romances e poesia? Acha que Ficção ainda será um segmento forte na Buzz?
AC: Sim, leio e gosto. Inclusive lançamos neste mês a Fran Bitten, autora nacional de poesia com o título “Ela brilha no escuro”. E, sim, a ficção irá crescer cada vez mais na Buzz. É um segmento que no Brasil está com uma venda muito abaixo do seu potencial, mas historicamente sabemos que será revertida e alcançará números maiores. Publicamos dois livros do James Patterson, que é o autor mais vendido no mundo, e temos mais títulos dele e de outros autores de ficção que lançaremos nos próximos meses. Além disso, temos apostado em livros que viraram filmes, como a série best-seller “365 dias”, e outros que compramos e já sabemos que serão adaptados para o cinema. Aqui nós gostamos de boas histórias, tanto que fizemos o livro “36 dias”, do piloto Antonio Sena, que sobreviveu a um acidente aéreo na Amazônia e ficou durante 36 dias caminhando até ser resgatado. Nós construímos esse projeto e foi muito emocionante desde o início. Quando vi a história dele, não teve como não pensar: “nossa, isso daria um livro!”. O Antonio tem uma história de vida inspiradora e agora acabamos de vender os direitos audiovisuais para uma produtora internacional que irá adaptar o livro para o cinema. Onde houver um enredo bom, a Buzz estará lá, buscando contar essa história para os nossos leitores.
VB&M: Quais livros foram importantes para a sua vida? Alguma obra contribuiu para fazê-lo escritor? E para fazê-lo editor?
AC: Essa pergunta me faz pensar no quanto a idade está chegando para mim. Eu acabei de completar 27 anos nessa missão maravilhosa que é trabalhar no mercado editorial. Muitos livros já passaram por mim e muitos outros virão.
Tenho a crença bem forte de que cada vez que trabalho um livro novo com um autor, eu me torno um profissional melhor, um pai melhor, um filho melhor, um marido melhor. Vivo nesse universo do conhecimento e sou privilegiado por poder aprender e crescer como ser humano em cada projeto.
Vou arriscar dizer alguns livros que contribuíram, mas, se você me fizer essa pergunta daqui um mês, talvez a resposta seja outra. O primeiro foi “Fernão Capelo Gaivota” (Record), que li quando era criança (faz tempo!), mas que naquela época me ensinou o quanto podemos questionar tudo ao nosso redor. Foi com esse livro que descobri o quanto podemos desbravar esse mundo repleto de oportunidades, sempre superando nossos limites. Outro livro foi o “Dedique-se de coração”, do Howard Schultz, que conta a história da Starbucks. Eu o li há mais de vinte anos e me marcou muito o quanto uma empresa que nasce totalmente voltada para surpreender e transformar a vida dos seus clientes tem seu sucesso praticamente garantido. Inclusive realizei o sonho de publicar esse livro pela Buzz há três anos. Penso que tenho um diferencial competitivo, talvez único no Brasil, porque sou autor best-seller, com mais de 1,7 milhão de livros vendidos no Brasil e já fui publicado em 21 países, ao mesmo tempo que editei outros grandes best-sellers como Caio Carneiro com o “Seja foda”, Gustavo Cerbasi com o “Casais inteligentes enriquecem juntos”, Flávio Augusto, com “Geração de valor”, entre outros. Nesta minha jornada, tive a oportunidade de lançar nomes como Padre Fábio de Melo, Walcyr Carrasco, Paulo Coelho, Rick Chesther, Cris Poli, Paula Abreu. Enfim, nomes que hoje são consagrados em seus segmentos, tamanha a contribuição para os seus públicos.
O que eu vou falar agora pode parecer estranho, só que, acredite: o meu lado editor sempre pensa de forma genuína no leitor. Não sei se todos os editores pensam assim, mas aqui pensamos no leitor o tempo todo. Na Buzz, trabalhamos para que cada livro tenha sua missão. Essa missão precisa ser conectada e entregue pelo autor para o nosso leitor através de um roteiro bem elaborado e de um texto profundo e gostoso de ler.
Como escritor, gosto muito de ler o Mia Couto. Sua capacidade criativa, com o roteiro e as palavras, somada a seu poder de síntese, por meio do qual ele é capaz de colocar em uma única frase um ensinamento que muitas vezes não sabemos como abarcar em nós, me inspira muito a evoluir cada vez mais.
VB&M: Para você, qual a característica indispensável para um livro de Negócios ser qualificado como bom? E na Autoajuda?
AC: Primeira característica: o livro, antes de mais nada, precisa ser honesto, entregar o que se propõe a entregar. Muitos livros não passam nessa avaliação e o recusamos porque não cumpre a promessa. A segunda característica é que precisa ter ineditismo, e quando falo isso, não é que precisa ser algo novo, que nunca foi dito. É imprescindível que a obra transmita algo com certo protagonismo, com uma visão original e diferenciada sobre o tema que deseja apresentar. Tenho certeza que daqui a 100 anos vamos ter problemas de liderança, de relacionamento, de gestão do tempo, de propósito. Ou seja, você pode falar novamente sobre propósito ou qualquer um desses temas, mas precisa ser com a sua visão, algo novo, não pode ser mais do mesmo. As pessoas estão cansadas do lugar-comum.
Outra característica, em especial na autoajuda, de livros bons é a capacidade de o texto gerar reflexões em vez de definir regras ou passos, como se qualquer pessoa, em qualquer contexto social, econômico ou político, fosse capaz de por em prática a receita e ter resultados. Na Buzz, não acreditamos em um caminho único para se construir algo. Existem várias possibilidades e creio nos livros que provocam o crescimento do leitor.
Essa próxima característica é muito nossa na Buzz e se tornou um diferencial. Usamos e abusamos de storytelling nas nossas obras. Enquanto muitas editoras permanecem seguindo o roteiro da jornada do herói, e depois de se ler um livro parece que já se leram todos, acreditamos que cada livro possa e deva ter seu roteiro único e exclusivamente pensado e desenhado para conectar a promessa do autor à experiência de toda a jornada de leitura do leitor. Por exemplo, temos um livro do Marcos Rossi chamado “O que é impossível para você?” O Marcos, quando conversa, não termina de falar de um assunto e logo já muda para outro. No livro dele, cada capítulo respeita essa forma de ser do Marcos e tem cortes que parecem roteiro de filme. Não é à toa que se tornou um best-seller e o autor iniciou sua carreira internacional. Essas características em geral valem para livros de negócios, autoajuda e praticamente qualquer outro gênero. Quando trabalhamos com o foco na experiência do leitor, que tem seus anseios, necessidades e expectativas a serem atendidas, o gênero é algo a ser considerado, mas o mais importante é essa conexão e vínculo com o leitor.