Autor do COMPÊNDIO MÍTICO DO RIO DE JANEIRO e de O ENIGMA DE QAF, Alberto Mussa traz um precioso comentário sobre suas leituras atuais: “Aráoz y la verdad” (Alfaguara, 2015), do argentino Eduardo Sacheri, é o seu lazer; “Sehaypóri” (Peirópolis, 2007), coleção de mitos mawés assinada por Yaguarê Yamã, faz parte de sua pesquisa para a nova edição bilíngue tupi antigo-português de MEU DESTINO É SER ONÇA.
No que se refere às leituras de lazer, aquelas de depois do almoço, quando posso pôr os pés em cima da mesa, tenho frequentado mais assiduamente a novela latino–americana. Talvez seja, no conjunto daquilo que nos chega, um dos redutos literários onde ainda haja alguma ficção propriamente dita; onde as tramas, as personagens, as vozes autorais nem sempre estão subordinadas a essa chatice que é “O Contemporâneo”, seus conflitos, suas pautas.
Minha última descoberta, nesse âmbito, vem da esplêndida literatura argentina: “Aráoz e a verdade” (Alfaguara, 2015), do Eduardo Sacheri. O protagonista, Aráoz, volta para sua cidadezinha natal, um ponto perdido no mapa, disposto a investigar o que ocorreu, anos antes, na partida de futebol que acabou rebaixando e extinguindo o time local — quando o então craque desse time, Perlassi, teve um comportamento muito suspeito. Para quem não conhece, Sacheri é autor da novela que inspirou o filme “O segredo dos seus olhos”. É um narrador excepcional, em todos os sentidos; tanto que acabo de começar outro livro dele: “A noite da Usina”.
Agora, quando se trata das leituras sérias, aquelas de entre o café da madrugada e a hora do exercício, venho relendo as mitologias tupis, porque trabalho numa nova versão do MEU DESTINO É SER ONÇA, dessa vez bilíngue, em tupi antigo e brasileiro. Estou debruçado sobre os mitos mawés contidos no “Sehaypóri” (Peirópolis, 2007), do Yaguarê Yamã. Nesse livro espetacular, Yaguarê recria relatos tradicionais escritos no Porantim, ou Puratig, o remo sagrado dos Mawés — o Povo do Guaraná.
É muito estranho perceber que quase ninguém com quem converso sabe quem são os mawés, que os mawés têm uma escrita própria, que foram os primeiros a cultivar o guaraná. Não entendo também como Yaguarê Yamã e outros autores indígenas quase não conseguem sair do nicho infanto–juvenil. Não entendo, mas sei bem por quê.