BIOLOGIA FEMINISTA

Yasmin Ribeiro

A produção editorial começa a refletir o influxo da mulher nos laboratórios e nos bancos de pesquisa científica, que está provocando um corte epistemológico de caráter feminista nas ciências, principalmente as biológicas. Na França, desde outubro, um livro de paleontologia e arqueologia agita o mercado editorial, O HOMEM PRÉ-HISTÓRICO FOI TAMBÉM UMA MULHER, de Marylène Patou-Mathis, com a revelação de um surpreendente protagonismo feminino na Idade da Pedra – lançamento já noticiado neste espaço. Agora vem aí o trabalho da bióloga e feminista alemã Meike Stoverock para revolucionar a percepção do sexo feminino na espécie humana.

Em DECISÃO DA FÊMEA (tradução livre do original alemão, a ser publicado pela Klett-Cotta), Stoverock soma um extenso conhecimento de biologia e história para propor uma visão inovadora e bem-humorada da batalha dos sexos no plano da reprodução da espécie. Há uma razão reprodutiva para as fêmeas do pavão, do leão e do peixe beta _ para citar só algumas poucas espécies _ serem tão diferentes dos machos. Em inglês, female choice é o termo da biologia que descreve a estratégia de reprodução da maioria dos animais, segundo a qual os machos devem competir pela atenção da fêmea, cabendo a ela decidir com quem irá procriar. Daí, galos e leões, por exemplo, serem tão mais chamativos que galinhas e leoas.

Stoverok demonstra que os humanos seguiam o mesmo princípio de poder feminino, mas a dinâmica inverteu-se após a descoberta da agricultura. A partir da Revolução Agrícolas, criou-se um mundo feito por machos e para machos. Mas, ainda segundo a bióloga, esse padrão já está se alterando e será suplantado em não muito tempo.

Previsto para fevereiro de 2021, o lançamento de DECISÃO DA FÊMEA há de arrebatar o leitor com o estilo bem-humorado que só realça o rigor científico da autora. Com uma obra acessível tanto para especialistas quanto para leigos em biologia, Meike Stoerok traz uma nova perspectiva para o debate sobre gênero.