DEDO NA FERIDA DO RACISMO

A escritora Rachel Bassan, autora de BELA DE ODESSA (Editora dos Editores), compartilha sua Frase Sublinhada na página 154 de”Quichotte” (Companhia das Letras, 2021), de Salman Rushdie. Para ela, “o romance conduz o leitor na busca do amor através de um país (Estados Unidos) à beira do colapso moral e espiritual. Escrito durante o governo de Donald Trump, que influenciou a escolha de temas urgentes, ‘Quichotte’ é o retrato irônico de uma época em que não se consegue distinguir o fato e a ficção.” Sobre o trecho selecionado, Rachel comenta ainda: “Rushdie põe o dedo na ferida do racismo contra os negros na sociedade norte-americana em todas as camadas sociais. Expõe o ônus e a dor de ser negro numa sociedade indiferente.”

“[O programa] ‘Por Ser Negro’ convidava homens que tinham sido detidos numa cafeteria depois que um funcionário branco da casa chamara a polícia porque eles pediram para usar o banheiro enquanto esperavam por um amigo branco; homens que tinham sido interrogados por policiais porque um jogador de golfe branco achou que estavam levando muito tempo entre um buraco e o seguinte; homens detidos pela polícia numa academia porque, bem, estavam se exercitando; e mulheres detidas pela polícia porque estavam comprando vestidos para a festa de formatura, ou tirando uma soneca na sala de estudantes de alguma universidade da Ivy League da qual eram alunas, ou sentadas em suas poltronas no avião quando um passageiro branco achou que elas ‘tinham um odor pungente’. O poder de Salma era tamanho que o programa foi capaz de envergonhar os acusadores brancos que haviam chamado a polícia, a ponto de fazer com que comparecessem para confessar, reconhecer seus preconceitos, pedir desculpas, abraçar os acusados, e, por aí vai. Esse quadro fez dela a favorita disparada para ganhar o segundo Emmy e – ainda mais importante – deu uma genuína contribuição às conversas sobre raça no país.”