Yasmin Ribeiro
Um autor, Christophe Granger, conquistou o Prix Femina este ano com uma fascinante biografia ensaística – JOSEPH KABRIS, OU LES POSSIBILITÉS D’UNE VIE: 1780-1822 (Anamosa). Uma das mais prestigiosas premiações literárias da França, criada em 1904 como resposta ao machismo do celebrado prêmio Goncourt, o Prix Femina tem um júri composto por 20 mulheres mas, as francesas não sendo chauvinistas, a láurea pode ser atribuída também a escritores – o importante não é o gênero do autor, mas a qualidade da obra.
Misto de ensaio sociológico e biografia, JOSEPH KABRIS, cuja pesquisa e escrita levaram 15 anos para serem finalizadas por Granger, parece mais uma criação de Alexandre Dumas ou Daniel Defoe. Com uma vida extraordinária, Kabris foi um marinheiro francês e um camaleão social: esquecendo-se de seu próprio mundo, depois do naufrágio de um baleeiro que ele tripulava, tornou-se nativo de uma comunidade indígena nas Ilhas Marquesas, no final do século XVIII.
Nascido em Bordeaux, Joseph Kabris viveu por sete anos em Nuku Hiva, a maior das Marquesas, na Polinésia Francesa. Ele aprendeu o idioma e os costumes dos nativos, tatuou seu corpo inteiro, casou-se e teve filhos na ilha. Foi encontrado por exploradores russos, que o levaram de volta para a Europa e o apresentaram ao czar. De volta à França, um estrangeiro na própria terra, ele precisou reaprender o francês para poder contar sua história fantástica. Depois de ter sido marinheiro, chefe militar, professor de natação e exibir seu corpo tatuado, Joseph Kabris morreu aos 42 anos, sem ter a chance de voltar a Nuku Hiva.
Ao narrar o processo da adaptação de Kabris a novas culturas, Christophe Granger promove uma reflexão sobre a história da globalização, da qual emergiram as sociedades contemporâneas, e a facilidade com que a humanidade pode adquirir e mesclar novos costumes. Um livro sensacional que a VB&M representa em nome da agência parisiense BAM.