O BOM EXEMPLO QUE VEM DA ITÁLIA

Luciana Villas-Boas

Visando a contribuir para o renascimento do ambiente literário e cultural na Itália, tão abalado pela crise decorrente da pandemia de Covid-19, o Ministério das Relações Exteriores desse país acaba de criar uma bolsa de 4 mil euros para incentivar editoras estrangeiras a adquirir direitos  de tradução de obras literárias italianas. A liberação do caixa apoia-se ainda no portal newitalianbooks.itlançado em parceria com a editora Treccani, a fim de reunir e difundir informações sobre a rica produção literária que a Itália tem exibido nos últimos tempos.

Para receber a bolsa de 4 mil Euros, cada editora estrangeira deve assinar o contrato de direitos de tradução de um livro italiano entre 1 de junho e 25 de setembro deste ano, e as inscrições no programa podem ser feitas até 5 de outubro. Estima-se que o mercado editorial desempenhará um papel importante na recuperação econômica da Itália pós-pandemia. Certamente, há de destensionar e alegrar o vasto meio literário facilitando o caixa de autores, editores e agentes, além de somar na projeção de uma imagem positiva do país.

Em entrevista ao Giornale della Libreria, o embaixador Roberto Vellano, responsável pela Disseminação da Língua e da Cultura Italiana no MRE, disse que o lançamento do newitalianbooks.it é fundamental para potencializar os desdobramentos de eventos literários nos quais a Itália ganhará destaque nos próximos anos _ o Salon du Livre de Paris em 2022 e a Feira de Frankfurt em 2024. O site reunirá dados sobre as vendas de livros italianos pelo mundo e sobre as negociações de traduções para outros idiomas, informações difíceis de se obter anteriormente. 

Há ainda o investimento do governo em prêmios como o Serga e o Campiello, cuja edição de 2020 foi vencida por Veronica Galletta, autora de LE ISOLE DI NORMAN (direitos de tradução ainda livres no Brasil). O embaixador Vellano espera que essas iniciativas promovam a internacionalização do mercado editorial italiano, aumentando sua visibilidade mundo afora.

A literatura da Itália tem hoje seu carro-chefe na obra de Elena Ferrante, a tetralogia napolitana A amiga genial, traduzida e lançada em 40 países e que já vendeu mais de 12 milhões de exemplares; no Brasil, publicada pela Editora Globo. Para a maioria de seus leitores, amiga genial foi o primeiro contato com a ficção italiana. “Os tradutores são os mediadores culturais mais importantes no meio literário”, disse o embaixador Vellano. “São figuras centrais, mas nem sempre recebem o devido reconhecimento. […] O Ministério das Relações Exteriores tem buscado meios de contribuir, e essa iniciativa pode ter um impacto excelente nas vendas de direitos de tradução das obras italianas.” 

Vellano é, se não genial, um amigo fiel de autores e editores na Itália, sem falar dos tradutores desse idioma em todo o mundo. Seria maravilhoso se servisse de modelo para o presidente Bolsonaro, afinal um oriundo, e o ministro Guedes. Mas aqui, infelizmente, outra banda toca e, como se a crise das livrarias e da economia em geral não bastasse, a ideia é castigar ainda mais os editores, autores, leitores, agentes _ o Livro _, agora com uma reforma fiscal visando a zerar de vez o caixa da indústria.

É inacreditável: no mundo inteiro, inclusive nos Estados Unidos, governos buscam soltar dinheiro para os pequenos empresários, em muitos países com prioridade para a área cultural _ uma questão de sobrevivência. No Brasil, só ferro; Pronampe que ninguém consegue, e agora querem acabar com a indústria editorial pelo resto dos tempos. Com pedidos de perdão pelo editorial mal-criado neste último parágrafo, opinião daqui de dentro nesta coluna de LÁ FORA, vai de brinde uma foto de Anna Luiza Cardoso em frente ao prédio grandioso da Mondadori, projetado em 1968 por Oscar Niemeyer, numa visita que fizemos à editora em 2017 e que veio a render a tradução de A MÃE DA MÃE DE SUA MÃE E SUAS FILHAS, de Maria José Silveira, em italiano.