Yasmin Ribeiro
Um caso em que a Justiça deve ser maior do que a lei, a saga do ex-presidiário Bobby Love, que viralizou no início de fevereiro com a sua publicação no blog Humans of New York, sairá ainda este ano como livro de memórias. O título da obra será THE REDEMPTION OF BOBBY LOVE (A redenção de Bobby Love). Tal como um Jean Valjean da vida americana no capitalismo tardio da virada do milênio, Bobby trocou de identidade após escapar da prisão e conseguiu mudar de vida, mas foi perseguido e encontrado pelo FBI em 2015, 38 anos depois da fuga.
Em 1971, numa Carolina do Norte recém-saída de uma legislação implacavelmente racista (as chamadas leis de Jim Crow), o adolescente Walter Miller foi preso por assalto à mão armada e condenado a 30 anos de prisão. Seis anos depois, conseguiu fugir da cadeia e recomeçar sua vida como Bobby Love em Nova York. Em 1980, trabalhando no Centro Médico Batista no Brooklyn, ele se apaixonou por uma jovem, Cheryl, com quem se casou cinco anos depois e que lhe deu todo apoio para estruturar uma família e uma vida não só dentro da lei, mas essencialmente decentes. Os dois tiveram quatro filhos e viveram tranquilamente por décadas, a salvo do passado de Bobby, que se tornou diácono na igreja batista local.
Um dia de 2015, porém, enquanto preparava seu chá, Cheryl abriu a porta de casa e foi surpreendida por agentes do FBI e da polícia de Nova York à procura de seu marido. Sem entender, ela viu Bobby ser algemado e levado para a prisão a fim de cumprir o resto de sua pena estabelecida na Carolina do Norte.
Mais do que memórias de um ex-presidiário que encontrou a redenção, THE REDEMPTION OF BOBBY LOVE é um manifesto e um apelo para que a Justiça tenha mais importância do que a letra da Lei numa sociedade em que vigoram dois pesos e duas medidas. Ao contar a história deles, Bobby e Cheryl Love levam à reflexão sobre um sistema engessado e racista que só conhece a punição como maneira de garantir o bom comportamento social. O livro sairá nos EUA pela Houghton Mifflin Harcourt em outubro deste ano, e os direitos de publicação na Grã-Bretanha foram vendidos em leilão para a Transworld.