Luciana Villas-Boas
O debate político na Alemanha nos últimos dias vem sendo pautado por um livro que, lançado em janeiro pela Kiepenheuer & Witsch (a Kiwi), foi direto para o sétimo lugar da lista de mais vendidos da Der Spiegel e lá está aboletado até hoje, junto das memórias de Michelle e Barack Obama e da biografia de Kamala Harris. O título é VON HIER AN ANDERS (Diferente, daqui para frente), um ensaio sobre a luta política contemporânea assinado por Robert Habeck, escritor e líder do Partido Verde alemão.
O tema central de DIFERENTE DAQUI PARA A FRENTE leva a uma indagação essencial em muitos países, mas dolorosamente pertinente no Brasil: “Como promover políticas corajosamente progressistas sem ignorar o fato de que é precisamente o progresso e a vontade de mudar e melhorar que alienam e repelem as pessoas, muitas vezes até provocando rebeliões?” O livro chama para a real políticos e gente idealista em geral, não nos deixando esquecer não só que a maioria é burra mas também conservadora. Não quer mudança, não quer melhoria, não quer perder o que pensa ter – não é nem o que tem -, e ponto final.
Robert Habeck é um nome em ascensão na cena política alemã, pois o Partido Verde já se configura como o segundo mais forte no país, superando os social-democratas. A carreira dele como escritor antecede a vida pública. Antes de se meter na política, assinou com sua mulher diversos romances e livros infantis. Fizeram muito sucesso, também foram para listas de mais vendidos e tudo o mais.
Agora a preocupação de Habeck é formular e disseminar uma política apropriada para enfrentar os problemas dos últimos tempos, em que a crise climática e o aumento da desigualdade social só diminuem a confiança da população na democracia liberal. Ao mesmo tempo, ele quer refletir maneiras de abrir os olhos das pessoas e conquistá-las para essa pauta em sociedades cuja população é em grande parte conservadora ou até reacionária.
Em sua proposta teórica, Robert Habeck acredita que a democracia e as políticas progressistas têm um futuro nas sociedades ocidentais, ainda que precisem ser explicadas à exaustão. Apesar das manifestações de irracionalidade que presenciamos em tantos países, ele tem esperança e confiança de que se há de reverter a tendência para regimes autoritários. Segundo o pensador, é preciso querer essa reversão e decidir por um caminho diferente daqui para a frente.
Tomara que o Brasil venha a se constituir um “case” positivo na teoria de Habeck com o povo unido na construção de uma nação socialmente justa, economicamente igualitária e de alta consciência ecológica. Será preciso convencer alguns milhões de pessoas, não bastará apenas se livrar de uns tantos políticos deletérios e psicopatas.