Frini Georgakopoulos, editora da Sextante e autora de “Sou fã! E agora?”(Seguinte/Companhia das Letras), indica no blog a leitura do romance “O lorde que eu abandonei” (Arqueiro), de Scarlett Peckham.
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Quando descobri os romances de época, muito antes de trabalhar no mercado editorial, tinha uma visão completamente errada do que significavam. De lá para cá, muita coisa mudou e me apaixonei pelo gênero. “O lorde que eu abandonei” (Arqueiro) é o terceiro na trilogia “Segredos da Charlotte Street”, da americana Scarlett Peckham, mas funciona como livro único, assim como os demais da série. O que me encanta nessa história é a dinâmica dos protagonistas, que considero um dos diferenciais da escrita da autora. Geralmente em romances de época, temos o herói exercendo grande agência na história, ou porque é um libertino ou por ter poder aquisitivo elevado (ou ambos!). A heroína – por mais que tenha personalidade assertiva ou independência financeira – não deixa de ser refém do período histórico, que mantinha as mulheres com pouca agência sobre sua própria vida, bens e corpo. Pensando bem, assustadoramente atual em alguns aspectos!
Em “O lorde que eu abandonei”, os papéis são invertidos: temos um homem casto e inexperiente e uma mulher independente e muito à vontade com seu desejo. Essa dinâmica de poder/influência/agência que Scarlett usa em seus livros, respeitando cada trope diferente, traz frescor para o gênero literário, surpreende e deixa aquele recado que sim, mulheres querem um final feliz, mas não só, pois a vida – e romances de época – são muito mais do que isso.