Alguém, certa vez, me disse que nunca é tarde para ler um clássico. Aos 28 anos, seguindo o preceito à risca, resolvi começar meu primeiro livro de Agatha Christie, depois de ouvir diversos comentários elogiosos de amigos ao longo dos anos. Encontrei este exemplar de “Um cadáver na biblioteca” num sebo (ou alfarrabista, como chamam aqui em Portugal) escondido e bem humilde de Lisboa. Estava terminando “Bufo & Spallanzani” pouco antes de Rubem Fonseca falecer, o que me influenciou a seguir nos romances policiais, gênero que sempre preteri e que agora não consigo largar.
A trama não é densa, com poucos personagens, e gira em torno de um assassinato aparentemente sem explicação lógica. Consegui perceber o porquê de a autora fazer tanto sucesso pois, mesmo com um grau de complexidade baixo, ela consegue fornecer elementos à narrativa para atiçar a imaginação do leitor, inapelavelmente imerso na missão de descobrir quem é o autor do crime.
Foi uma experiência divertida e uma leitura prazerosa, que me despertou a curiosidade de ler mais Agatha Christie. Embora não carregue o tom sombrio de tantos autores de romances policiais, ela maneja todas as ferramentas de uma boa narrativa de mistério, e o livro e me prendeu do início ao fim. Me ensinando a lição de que é possível construir interessante trama de suspense com bem poucos elementos e um alto grau descritivo na composição de uma leitura breve e um volume pequeno e portátil como é do gosto da maioria dos leitores.
A tradução foi feita por Maria Emilia Ferros Moura, para a Colecção Vampiro. O título do livro no Brasil ficou “Um corpo na biblioteca”.
Cassar é cronista e jornalista brasileiro residente em Portugal.