O QUE WALKER ESTÁ LENDO?

José Roberto Walker, autor de NEVE NA MANHÃ DE SÃO PAULO (Companhia das Letras), escreve sobre sua leitura de “Metrópole à Beira-Mar: o Rio Moderno dos anos 20” (Companhia das Letras), que é, em sua opinião, o melhor livro de Ruy Castro.

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Ganhei de presente, logo no começo da pandemia, “Metrópole à Beira Mar” (Companhia das Letras), de Ruy Castro. O subtítulo define bem o que é a obra: O Rio Moderno dos anos 20. Guardei na estante porque estava começando a trabalhar em um novo romance sobre as elites paulistanas do mesmo período e não queria me deixar influenciar. Mas a pandemia foi se prolongando, meu trabalho já tem uma estrutura formada e eu, muito fraco para resistir às tentações, peguei o volume na prateleira.

Já li muito do Ruy Castro, mas este livro foi uma surpresa para mim. Acho que é o melhor que ele escreveu. Faz um panorama amplo do Rio e do Brasil nos anos 1920, um período crucial, que só agora começa a ser devidamente explorado pelos historiadores. Por não ser um acadêmico, Ruy enfrenta com muita desenvoltura o tema do modernismo literário e confronta, sem receios, os cânones sobre a Semana de Arte Moderna e os autores considerados pré-modernistas.

O que me pareceu mais notável é a recuperação que o livro faz da extensa literatura feminina do período, muito ousada e com grande repercussão e popularidade. Lendo, me lembrei da Miss Cyclone, personagem do meu livro Neve na Manhã de São Paulo, que amou intensamente Oswald de Andrade e queria ser escritora. Essa literatura nova, de mulheres atrevidas e independentes, certamente a terá influenciado. Nomes como o de Gilka Machado, que estreou em 1915 com 22 anos e desde o início foi um sucesso e um escândalo.

Como diz o Ruy Castro:

“Elas quebraram o monopólio editorial masculino, antes apenas arranhado por Julia Lopes de Almeida e Carmen Dolores. Algumas eram ficcionistas como Albertina Bertha, Mercedes Dantas e Chrysanthème. Outras eram poetas como Rosalina Coelho Lisboa e a própria Gilka Machado, e mesmo a ativista Bertha Lutz. Nenhuma podia se comparar a Colette, Edith Wharton ou Virginia Woolf, suas contemporâneas internacionais, mas o que diziam em seus livros, entrevistas ou conferências começou a ensinar uma multidão de mulheres brasileiras a pensar e agir por conta própria — e, aos homens, que se acostumassem com isso.”