RACHEL BASSAN LÊ SAYAKA MURATA

Autora do romance histórico BELA DE ODESSA (Editora dos Editores), Rachel Bassan recomenda a leitura de “Querida Kombini” (Estação Liberdade), de Sayaka Murata, uma narrativa curta que reflete e critica a cultura do trabalho no Japão.

“Querida Kombini” é um romance de 148 páginas, mas nem por isso uma leitura rápida. Uma narrativa polêmica, que desperta reflexão.

A autora, Sayaka Murata, conta, com um olhar irônico e perspicaz, a história desconcertante e surpreendente de Keiko Furukura, 36 anos, solteira, residente em Tóquio, funcionária “temporária” há 18 anos em uma loja de conveniência (Kombini). Conveniência, aliás, que ganha muitos significados ao longo da história. Keiko tem uma percepção bastante singular do mundo, e parece não absorver os códigos sociais de sua comunidade. Age com pragmatismo desconcertante. As coisas não são tão óbvias para ela. Nunca foram, desde criança. Sempre se sentiu um peixe fora d’água.

O renascimento de Keiko acontece quando vai trabalhar na Kombini. Ali, fala a língua de sua nova tribo, percebe a si mesma com uma função na sociedade. Seu mundo e seu propósito na vida passam a ser regidos pela rotina de trabalho repetitivo e pelo manual da loja. O conceito de normalidade fica relativizado nesta história, questionável dentro do padrão da cultura japonesa. Mas aí fica difícil dizer onde a loja termina e Keiko começa. Ou seria o contrário?