REAL DESASSOSSEGO

O escritor e tradutor Edgar Garbelotto, autor de um magistral romance ainda inédito, TERRA INCÓGNITA, oferece sua Frase Sublinhada na apresentação assinada por Jerónimo Pizarro para a edição brasileira da Tinta-Da-China de “Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa. Edgar comenta: “Nesse trecho escrito em 1930, Pessoa, como bem indica Pizarro, sente a necessidade de explicar por que escreve como escreve. A obra-prima de Pessoa está repleta dessas imagens. Imagens de puro deleite para quem usa a palavra como instrumento da sua arte.”

“A vida é absolutamente irreal na sua realidade direta; os campos, as cidades, as ideias, são coisas absolutamente fictícias, filhas da nossa complexa sensação de nós mesmos. São intransmissíveis todas as impressões salvo se as tornamos literárias.

[…] Dizer! Saber dizer! Saber existir pela voz escrita e a imagem intelectual! Tudo isto é quanto a vida vale: o mais é homens e mulheres, amores supostos e vaidades factícias, subterfúgios da digestão e do esquecimento, gentes remexendo-se, como bichos quando se levanta uma pedra, sob o grande pedregulho abstrato do céu azul sem sentido.”