HERANÇA BILIONÁRIA E SOMBRIA DO NAZISMO

Yasmin Ribeiro

A Mariner Books, que incorporou o catálogo da Houghton Mifflin Harcourt desde sua compra pela Harper Collins nos EUA, publicará em abril de 2022 uma aguardadíssima reportagem do jornalista David de Jong chamada NAZI BILLIONAIRES. Com passagens pelo “Wall Street Journal” e pelo “Financial Times”, de Jong escreve sobre economia para o “Bloomberg News” e seus artigos sobre a herança nazista dos maiores bilionários alemães se tornaram alguns dos mais lidos na história do jornal. Foram quatro anos de uma pesquisa minuciosa até a entrega do manuscrito à editora, há menos de um mês. O resultado é uma grandiosa reportagem sobre a origem nazista da fortuna das famílias mais ricas da Alemanha contemporânea em uma narrativa que se lê como thriller. Com base apenas na proposal, além da HMH/Mariner Books, sete editoras estrangeiras adquiriram direitos de tradução: Meulenhoff, na Holanda; KiWi, na Alemanha; William Collins, na Grã-Bretanha; Saída de Emergência, em Portugal; Sonia Draga, na Polônia; Matar Triwaks, em Israel; e Corint, na Romênia.

De Jong levantou em sua pesquisa uma quantidade impressionante de informações inéditas que revelam uma verdade sombria por trás das maiores dinastias industriais da Alemanha, expondo como o crescimento de empresas como a BMW, da família Quandt; a Oetker, da família homônima; e a Porsche, da família Porsche-Piëch, foi impulsionado por relações por vezes escusas, por vezes explícitas, com o Terceiro Reich. Além de diretamente financiar o genocídio perpetrado pelo governo de Hitler, esses magnatas tomaram empresas de judeus, exploraram mão de obra escrava e aumentaram sua produção para equipar o exército nazista enquanto a Europa ardia ao seu redor.

Assim como Günther Quandt, patriarca do império industrial que detém a BMW, um dos mais icônicos da Alemanha, preso em 1946 por suspeita de colaboração nazista e absolvido sob a falsa alegação de ter sido forçado por Joseph Goebbels a se filiar ao partido, praticamente todos os outros grandes industriais alemães da época passaram ilesos pelos julgamentos dos seus crimes de guerra. Em grande parte por conivência da política americana, esses bilionários escaparam de seus crimes, enriqueceram cada vez mais e ergueram impérios que arrastam consigo uma mancha de sangue que paira sobre a economia alemã e global; uma dívida histórica com um passado sombrio até então muito pouco conhecido e que finalmente é trazido à tona.